
Há exatos dois anos, no dia 27 de maio de 2009, Barcelona e Manchester United adentravam o gramado do Estádio Olímpico de Roma para a decisão da Liga dos Campeões daquela temporada. Mais do que uma partida entre dois dos mais vitoriosos clubes da história do futebol, o jogo reuniu Pep Guardiola, que dava seus primeiros passos como treinador, e o já consagrado Alex Ferguson, com dois títulos da competição no currículo. Além, claro, de Messi e Cristiano Ronaldo, que travavam disputa à parte pelo posto de melhor jogador do mundo. À ocasião, levaram a melhor o técnico espanhol, que conquistou seu primeiro título europeu na condição de treinador, e o atacante argentino, que marcou o segundo gol da vitória catalã por 2 a 0.
Agora, já em 2011, as duas equipes voltam a ser os grandes protagonistas da Liga dos Campeões. Desta vez, o palco da decisão será o histórico Wembley, local que traz ótimas recordações a ingleses e espanhóis. A começar pelo Barcelona, campeão da maior competição de clubes da Europa pela primeira vez justamente neste estádio, que ainda não havia passado pelas reformas de modernização. Em 20 de maio de 1992, a equipe catalã disputava a hegemonia europeia com a italiana Sampdoria, e, após um 0 a 0 no tempo regulamentar, o capitão Ronald Koeman marcou de falta aos 4 minutos da segunda metade da prorrogação, garantindo à sua equipe o título da até então Copa dos Campeões. Reveja o gol de Koeman na grande decisão:
O primeiro título europeu do Manchester United, no mesmo Wembley, merece um capítulo à parte, sobretudo pela história de superação vivida pelo clube nos anos anteriores à conquista. Em 6 de fevereiro de 1958, após ter garantido a classificação às semifinais da Copa dos Campeões, o avião da equipe comandada pelo lendário Matt Busby, em escala na cidade de Munique, caiu segundo depois de decolar, ocasionando a morte de oito atletas e três diretores. Dez anos se passaram, e, em 1968, o mesmo Busby, já como Sir, conduziu o Manchester United à inédita conquista, a primeira de um inglês da Copa dos Campeões. Na final, os Red Devils venceram o Benfica de Eusébio por 4 a 1, também na prorrogação, com atuação de gala de Best e Charlton, este último um dos sobreviventes do desastre aéreo. Confira os melhores momentos da partida:
Os confrontos entre os dois times são recentes. No primeiro, em 1984, válido pelas quartas-de-final da extinta Cup Winners' Cup, os ingleses reverteram o placar de 2 a 0 que haviam sofrido no Camp Nou e avançaram. Sete anos depois, desta vez pela decisão do torneio, o United venceu o Barcelona, cujo goleiro era o pai do volante Sergio Busquets, e levantou o caneco. Em 1994, vieram os primeiros duelos pela Liga dos Campeões, e o Barcelona de Stoichkov e Romário eliminou o Manchester United. Em 1998, o quadro se reverteu, e quem se classificou foi o time inglês. Em 2008, novamente pelo torneio europeu, Scholes fez o gol da classificação em Old Trafford, após um 0 a 0 na Catalunha. Além da decisão de 2009, vencida pelo Barcelona.
Retornando à edição de 2011, seria injusto dizer que as duas equipes chegaram por acaso à decisão. Apesar da facilidade encontrada na fase de grupos, visto que ambos avançaram nas primeiras colocações de seus grupos, os confrontos do mata-mata, em sua maioria, foram marcados por muito equilíbrio. O Barcelona enfrentou um duro adversário já nas oitavas-de-final, o Arsenal, e só garantiu de fato a classificação no segundo jogo, além de ter feito o clássico com o Real Madrid nas semifinais. O caminho do Manchester United foi mais fácil se comparado ao do rival, mas, apesar da relativa tranquilidade para passar pelo Schalke 04 antes de chegar à decisão, a equipe de Alex Ferguson teve de enfrentar o Chelsea nas quartas-de-final.
As escalações já parecem quase definidas, ainda que estejam sujeitas a algumas alterações, principalmente por se tratar de uma final. Fala-se que Guardiola optará por colocar Mascherano no miolo de zaga e Puyol improvisado na esquerda, já que Abidal ainda não se recuperou totalmente da cirurgia para a retirada de um tumor. Busquets, Xavi e Iniesta compõem o meio, marcado pela intensa e qualificada troca de passes. Na frente, Villa e Pedro caem pelos lados, enquanto Messi joga pelo meio como um falso centroavante. O argentino, o melhor jogador do mundo na atualidade, pode ser o ponto de desequilibro em uma partida na qual as equipes praticamente se equivalem, apesar da leve superioridade técnica do Barcelona.
O Manchester United, ao que tudo indica, tem como principal estratégia manter a posse de bola e não deixar que o Barcelona tome conta do jogo. Atrás, uma linha de quatro composta por Fábio na direita, Vidic e Ferdinand na zaga e Evra pela esquerda. O sistema defensivo é o ponto forte dos Red Devils, que têm, na média, a melhor defesa do torneio. O meio-campo deverá ser formado por dois jogadores centrais, Carrick e Giggs, enquanto Park cai pela esquerda, e Valencia, pela direita, um pouco mais avançado do que o coreano, que deverá se preocupar com a marcação de Daniel Alves. A tendência é que Rooney ora faça o papel de armador e dificulte a saída de Busquets, ora avance para auxiliar Chicharito Hernández, o principal atacante.
O Manchester United pode aproveitar o seu lado esquerdo, que deverá ficar exposto com as investidas de Daniel Alves, e a baixa estatura de Mascherano, já explorada pelo Real Madrid, caso o argentino jogue na zaga. Por outro lado, os ingleses entrarão em campo com um meio-campo de pouca pegada, que não tem um forte poder de marcação, podendo facilitar a troca de passes entre Xavi, Iniesta e os atacantes. No entanto, em uma decisão repleta de bons jogadores, casos de Lionel Messi e Wayne Rooney, uma "simples" jogada individual pode arruinar um esquema tático, além do quesito psicológico, fundamental em momentos de decisão. São estes os fatores responsáveis por fazer do futebol um esporte fascinante, e de uma partida como essa, um vídeo que será reprisado, possivelmente, durante as próximas décadas.
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