terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A notória influência do futebol holandês no histórico e supercampeão Barcelona de Pep Guardiola


Marcação por pressão, domínio da posse de bola, centenas de passes precisos e inúmeras variações táticas ao longo das partidas. São essas as principais características do Barcelona de Pep Guardiola, que, sem dúvida, já entrou na lista das melhores equipes de todos os tempos. Para atingir tal condição, porém, os catalães buscaram inspiração em outros times que também fazem parte desse seleto grupo dos maiores esquadrões da história. Após a goleada sobre o Santos, o treinador espanhol disse que os próprios brasileiros praticavam um jogo semelhante ao do atual campeão mundial. Além do Brasil, outro país serve de referência para o incrível Barcelona dos dias de hoje: a Holanda. O "Carrossel Holandês" de Rinus Michels, vicecampeão do mundo em 1974, tem seus conceitos adotados quase quatro décadas depois por Guardiola e seus comandados.

A influência dos Países Baixos na história recente do clube catalão é evidente. Para se ter uma ideia, dos últimos cinco treinadores que passaram pelo Camp Nou, três eram holandeses. Yohan Cruyff, que já havia vestido o uniforme azul-grená como jogador, esteve à frente da equipe entre 1988 e 1996. Ao longo desse período, o camisa 14 da "Laranja Mecânica" conquistou onze títulos, dentre eles três do Campeonato Espanhol e um da Copa dos Campeões, a atual Champions League. Louis van Gaal, outro holandês, não teve o mesmo sucesso do compatriota, mas também deixou a sua contribuição na sala de troféus do Barcelona: foram quatro títulos, dois do Campeonato Espanhol. Frank Rijkaard comandou a equipe catalã durante a "Era Ronaldinho" e conquistou cinco taças, uma delas da Liga dos Campeões, em 2006, após vitória por 2 a 1 sobre o Arsenal na decisão.

Hoje, o Barcelona é conduzido por um espanhol, mas a relação do atual elenco catalão com o futebol holandês, principalmente com o histórico time de Rinus Michels, parece ainda mais forte e, por isso, merece uma análise. O vídeo abaixo contém os melhores momentos do duelo entre Holanda e Uruguai, válido pela primeira fase da Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha. As duas seleções caíram no grupo C da competição e se enfrentaram em seus jogos de estreia. O embate foi vencido pelos holandeses por 2 a 0 com dois gols de Johnny Rep, o maior artilheiro da Holanda na história do torneio. Mais importante que atentar para essas curiosidades, no entanto, é perceber - e admirar - as características do "Futebol Total", estilo de jogo conhecido sobretudo pelas muitas variações táticas e pela intensa movimentação dos jogadores durante a partida.



Uma das ferramentas mais impressionantes do time holandês é a marcação por pressão. A ideia é roubar a bola já no campo adversário, ou seja, perto da meta rival, e não conduzi-la da defesa até o ataque. Repare que, aos 13 segundos de vídeo, todos os jogadores da Holanda, à exceção do goleiro, aparecem na imagem pressionando o uruguaio que tem a bola e fazendo a linha de impedimento. Além disso, a partir do minuto 1:24, três holandeses dão combate ao mesmo atleta do Uruguai e, com isso, conseguem anulá-lo com facilidade. O Barcelona de Guardiola soube absorver essa peculiaridade do Carrossel Holandês e aplicá-la nos dias de hoje. Esse recurso faz os catalães terem o domínio da posse de bola em quase todos os jogos e torna-se ainda mais eficiente contra um adversário cuja defesa não tem qualidade para sair jogando, como aconteceu na decisão do Mundial com o Santos, que, na maioria das vezes, recorria ao famoso "chutão".

Outro ponto comum entre essas duas históricas equipes é o rápido, insistente e quase perfeito toque de bola. No minuto 1:57 do vídeo, os holandeses dão início a uma breve sequência de apenas nove toques que por pouco não resulta em gol. E, mais uma vez, o Barcelona foi capaz de adicionar ao seu estilo de jogo uma característica marcante da Laranja Mecânica. Na partida contra o Santos, o quarteto formado por Xavi, Iniesta, Fàbregas e Messi deu 366 passes e, incrivelmente, errou apenas 14, o que corresponde a um aproveitamento de quase 98%. Em duelos contra equipes bem postadas defensivamente, porém, é preciso um algo a mais: o drible. O primeiro gol da Holanda no embate com os uruguaios começa com uma bonita arrancada de Cruyff, aos 42 segundos de vídeo, que se assemelha muito às de Messi, o grande fator de desequilíbrio do Barcelona.

É importante ressaltar, no entanto, que não basta ver meia-dúzia de jogos do Flamengo campeão do mundo em 1981 , por exemplo, e, da noite para o dia, passar a jogar com a mesma qualidade de Zico, Leandro, Júnior, Adílio, Nunes e companhia. Atendo-se ainda à relação entre a Holanda de 1974 e o atual Barcelona, quando os comandados de Cruyff conquistaram a Copa dos Campeões em 1992, o meia Xavi, um dos pilares da equipe catalã, tinha apenas 12 anos e já integrava as canteras do clube, ou seja, a filosofia adotada pelo treinador do time principal lhe foi apresentada muito cedo. A contestada seleção brasileira ainda tem condições de recuperar o futebol que encantou o mundo há algumas décadas. Para isso, entretanto, é preciso que as mudanças comecem a ser feitas na base da pirâmide. Inspirações e referências com certeza não faltam.

No vídeo abaixo, confira os melhores momentos da goleada por 4 a 0 aplicada pelo Barcelona sobre o Santos. Não é difícil notar semelhanças entre o campeão mundial sob o comando de Pep Guardiola e o "Carrossel Holandês" dirigido por Rinus Michels.


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