domingo, 4 de dezembro de 2011

O dia em que Sócrates deixou a eletrizante rodada final do Campeonato Brasileiro em segundo plano


Ao longo de toda a última semana, as principais notícias dos programas de televisão, sejam eles esportivos ou não, diziam respeito à última rodada do Campeonato Brasileiro, cujo pontapé inicial será dado quando os relógios marcarem por volta de 5 da tarde neste domingo. Todos os dias, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas dirigiam-se aos treinamentos dos clubes, sobretudo de Corinthians e Vasco, os envolvidos na disputa pelo título, em busca das últimas imagens ou das palavras finais antes de o novo campeão brasileiro ser conhecido e premiado pela campanha que lhe valeu a taça. Não restavam dúvidas, portanto, de que temas referentes ao torneio que se encerra daqui a pouco dominariam o final de semana, dos noticiários mais nobres às pequenas rodas de amigos que se formam em um bar, principalmente em um dia de decisão como o de hoje.

Quis o destino, porém, que as dez partidas finais da atual edição do Brasileirão ficassem em segundo plano e dessem lugar às justas homenagens a Sócrates, que faleceu na última madrugada vítima de uma infecção generalizada. Confesso que não tive a sorte de acompanhar a carreira desse gênio do futebol brasileiro mais de perto, pois, para a minha infelicidade, só nasceria três anos depois da decisão do "Doutor" - conhecido assim devido à sua formação acadêmica em Medicina - de pendurar as chuteiras, em 1989, quando jogava no interior paulista. Entretanto, como apaixonado pelo esporte mais popular do Brasil, já procurei e assisti a dezenas de vídeos de Sócrates fazendo aquilo que sempre fez com perfeição e elegância, principalmente com a camisa da mágica seleção brasileira de 1982, que, infelizmente, não foi campeã mundial na Espanha.

Além das imagens, os números e as estatísticas do "Magrão" também ilustram, ainda que sem a mesma eficiência, a sua qualidade dentro de campo. Sócrates foi revelado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, pelo qual foi campeão do 1º turno do Campeonato Paulista de 1977. Um ano depois, em 1978, passou a vestir a camisa do Corinthians e, com ela, brilhou. E, nesse cenário, é importante ressaltar que "apenas" os três títulos estaduais que conquistou no alvinegro paulista não são suficientes para mostar a sua importância à história do clube paulista, pois Sócrates ultrapassou o limite de um simples atleta - e você entenderá por que depois. O Doutor ainda jogou pela Fiorentina, da Itália, pelo Flamengo, onde foi campeão carioca em 1986, e pelo Santos, além, obviamente, da seleção brasileira, da qual é o 19º artilheiro, com 25 gols em 63 partidas.

Mais importante do que a carreira futebolística do Magrão, no entanto, foi a sua participação como cidadão. O sobrenome "Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira" não deixa dúvida de que o ídolo do futebol nacional já nasceu para ao menos tentar mudar o rumo da história de sua pátria. Sócrates viveu o auge da ditadura militar, à qual se opôs no momento em que, ao lado de nomes como o de Chico Buarque, liderou o movimento "Diretas Já", que reivindicava eleições presidenciais diretas no Brasil. Além disso, o jogador esteve à frente da "Democracia Corintiana", um marco na rica história do clube de Parque São Jorge. Juntamente com Casagrande, Wladimir e Zenon, Sócrates sugeriu que decisões relacionadas a contratações ou às regras da concentração seriam tomadas a partir do voto dos jogadores. Nesse período, o Corinthians foi bicampeão paulista.

"Eu preciso de liberdade. Estou sempre criando alguma coisa. Um dia, talvez, se eu tiver saúde, ainda vou ser médico na praça.". A frase anterior sintetiza o exemplo deixado por Sócrates em uma época na qual jogadores pouco manifestam as suas opiniões, principalmente em relação à política da CBF, que nada tem de transparente. Quanto à "decisão" do Campeonato Brasileiro, independente do campeão, haverá bonitas histórias para se contar. Em agosto, o elenco vascaíno teve de superar os problemas de saúde que acometeram o treinador Ricardo Gomes e, sob o comando de Cristóvão Borges, conseguiu se manter na disputa pela taça. Meses depois, no domingo da última rodada, o Corinthians perde um de seus maiores ídolos. Este, sem dúvida, comemorará mais um capítulo escrito no "livro corintiano", que tem Sócrates como brilhante autor.

Àqueles que, assim como eu, não tiveram a felicidade de acompanhar ao vivo os lances de Sócrates, um vídeo mostrando parte da genialidade do ídolo brasileiro dentro de campo:


Um comentário:

  1. Dr. Sócrates eterno. Cheguei em casa na madrugada de sábado para domingo, ali por volta das 5 da manhã, e liguei o PC pra ver se o sono vinha, pois a pilha pelo jogo decisivo tava grande. Quando vi a manchete do Terra fiz força pra não acreditar, entrei em outros portais, Twitter... não podia ser verdade, mas era. Meu maior ídolo, meu eterno ídolo. Mesmo que eu não o tenha visto jogar ao vivo, mesmo que sua ideologia fora dos gramados fosse diferente da minha, nada disso supera a admiração que eu tenho por esse cara. Já fazia muita falta para os gramados do mundo, agora fará falta para o lado de fora deles também. Vá em paz, Magrão.

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