sexta-feira, 11 de julho de 2014

Defeitos estruturais existem, mas comissão técnica também merece ser responsabilizada por vexame da Seleção

Parreira e Felipão depositaram confiança exagerada no grupo
Quando o árbitro apitou o fim da histórica goleada por 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil, Luiz Felipe Scolari partiu em direção ao campo e gesticulou, assumindo a responsabilidade pelo vexame que acabara de acontecer no gramado do Mineirão. Horas depois, na coletiva de imprensa, o técnico reconheceu que teve culpa na derrota, a maior dos 100 anos de existência da Seleção Brasileira. "Quem é o responsável quando a equipe se apresenta? Quem é colocado como técnico? Quem é o responsável pelas escolhas? Sou eu.", declarou Felipão.

É inegável que os problemas vão muito além das quatro linhas. Antes mesmo desse massacre alemão já sabíamos que há vários pontos da estrutura interna do futebol brasileiro a serem discutidos e corrigidos. A derrota incontestável do Santos para o Barcelona por 4 a 0, em 2011, já havia sido um sinal de que é preciso renovar a cúpula do nosso futebol, formada em sua imensa maioria por dirigentes que estão no poder há anos. Porém, difícil acreditar em uma grande mudança sabendo que Marco Polo Del Nero, atual vice-presidente da CBF, assumirá a presidência da entidade em abril de 2015. E o pior: José Maria Marin, atual presidente da Confederação, será seu vice. Ou seja, mudam-se de lugar as peças do quebra-cabeça, mas elas são sempre as mesmas.

No entanto, esses fatos não isentam Scolari e sua comissão técnica de culpa na decepcionante campanha brasileira. Desde que assumiu, em novembro de 2012, o treinador do penta teve tempo suficiente para formar um time coeso com as boas peças que tinha à disposição. Não foi o que aconteceu. No Mundial, em raríssimos momentos vimos o Brasil jogar como equipe. Tanto que, das cinco partidas antes da eliminação, em duas (Croácia e Camarões) a Seleção dependeu do talento individual de Neymar, em uma (Chile) das defesas de Júlio César e em outra (Colômbia) da bola parada nos dois gols. Algumas falhas táticas, inclusive, já haviam aparecido na Copa das Confederações, mas acabaram "ofuscadas" pela boa atuação diante da Espanha na final.

Para piorar, nos momentos mais complicados, outro importante problema veio à tona: o desequilíbrio emocional. E, nesse quesito, Felipão e o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira erraram na dose. Logo em sua primeira coletiva pela Seleção, Scolari já adiantou: o Brasil tem a obrigação de ser campeão em casa. Um ano depois, em outubro de 2013, o treinador reforçou essa ideia. Em maio deste ano, quando o grupo estava concentrado na Granja Comary, Parreira também entrou na onda: "Brasil já tem uma mão na taça". Afirmar isso com tanta propriedade soa até como arrogância em uma época em que o futebol é tão equilibrado e quando temos gerações tão ou até mais talentosas que a brasileira, como a própria Alemanha de Joachim Löw.

Com declarações como essa, ao invés de aumentar a confiança dos jogadores, a comissão técnica acabou colocando sobre o grupo uma pressão que muitos atletas não estavam preparados para suportar. E isso é totalmente compreensível para uma Seleção que, no setor ofensivo, tem como protagonistas dois jovens muito talentosos, mas de apenas 22 anos - Oscar e Neymar. Alguns podem lembrar que Ronaldinho Gaúcho foi titular com essa mesma idade na campanha do pentacampeonato, em 2002. A diferença é que, naquela época, o meia tinha ao seu lado os consagrados Rivaldo e Ronaldo. A obrigação de resolver as partidas era dos dois, e não do jovem do PSG. Foi nesse cenário que Ronaldinho também se tornou peça fundamental daquele time.

Contexto era outro quando Ronaldinho Gaúcho foi decisivo em 2002
Outras atitudes de Felipão e Parreira durante a Copa dividem opiniões. Uma delas é a reunião que a comissão técnica convocou com seis jornalistas após as oitavas-de-final. Óbvio que é direito do treinador analisar outros pontos-de-vista. Entretanto, tal medida naquele momento passou a impressão de que Scolari não tinha plena convicção do que estava fazendo. Querendo ou não, essa insegurança é transmitida para o grupo, ainda mais porque o técnico, nessa mesma reunião, revelou estar arrependido de ter levado um dos 23 convocados. Como fica o lado psicológico do atleta sabendo que esse jogador pode ser ele? Além disso, pedir o apoio da imprensa àquela altura não faria o time render mais dentro de campo. A prioridade de Felipão deveria ter sido outra.

Erros pontuais como esses precisam ser mencionados para que não se repitam com o sucessor de Scolari na Seleção. Porém, como já disse, é importante ter consciência de que os problemas do futebol brasileiro extrapolam as quatro linhas. Calendário apertado, gramados ruins, baixa média de público nos torneios nacionais. Tudo isso precisa ser revisto. Na última década, a Alemanha passou por várias mudanças em seu futebol. Elas resultaram em um torneio nacional que se tornou referência de organização para todo o planeta, a Bundesliga, e em uma seleção preparada para ser campeã do mundo. Falei sobre isso aqui no blog quando Bayern de Munique e Borussia Dortmund, dois clubes alemães, decidiram a Champions League na temporada 2012/2013.

Também é importante ressaltar que, apesar da vexatória eliminação, esse grupo não é ruim. Aliás, eu discordo de quem diz que a atual safra brasileira não é boa. Alguns jogadores já beiram ou irão beirar os 30 anos em 2018, mas ainda têm condições de serem aproveitados na sequência do trabalho, casos de Thiago Silva (29 anos), David Luiz (27), Marcelo (26), Ramires (27) e Hernanes (28), além dos jovens Oscar (22), Bernard (21) e Neymar (22). Uma base com ótimos atletas o futuro treinador terá. A missão agora não é renovar a Seleção como fez Dunga em 2010, e sim fazer com que essas "engrenagens" funcionem em conjunto. Algo que Felipão não conseguiu. Por isso, merece ser responsabilizado pelo que aconteceu no inesquecível 8 de julho de 2014. 

No vídeo abaixo, confira o momento em que Carlos Alberto Parreira afirma que o Brasil "já tinha uma mão na taça". Confiança da comissão técnica no elenco era grande antes mesmo de a Seleção entrar em campo.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Fluminense não pode ser único alvo de críticas pelo rebaixamento da Portuguesa. CBF também tem sua parcela de culpa

Escalação irregular de Héverton custou rebaixamento da Lusa
O Brasileirão de 2013 terminou no final de semana do dia 8, com a disputa da 38ª e última rodada. Na teoria, pois na prática a competição ainda está em andamento. Não nos gramados, como nos acostumamos e queríamos ver, mas nos tribunais. Nesta segunda-feira, foi realizado o julgamento do "caso Héverton", que acabou com a punição e o consequente rebaixamento da Portuguesa à segunda divisão. Julgamento que, aliás, se assemelhou bastante a uma peleja do Campeonato Brasileiro, com transmissão ao vivo de emissoras de televisão e torcedores entoando cantos do lado de fora. Só que, dessa vez, o protagonismo coube aos "engravatados", e não aos jogadores.

Para quem ainda não entendeu o caso, a Lusa foi punida com a perda de quatro pontos por ter escalado o meia Héverton no jogo contra o Grêmio, pela última rodada do torneio. O atleta entrou somente aos 32 minutos do segundo tempo e em nada interferiu no empate em 0 a 0, mas não poderia estar em campo. Isso porque Héverton foi expulso no duelo com o Bahia, pela 36ª rodada. Como de costume, cumpriu suspensão automática na rodada seguinte, contra a Ponte Preta, e depois foi a julgamento, onde acabou pegando mais um jogo de gancho. Essa punição deveria ter sido cumprida no embate com os gremistas, o que não aconteceu. Com isso, a Portuguesa perdeu quatro pontos e foi parar na zona de rebaixamento, "salvando" o Fluminense da segundona.

Várias questões podem ser discutidas em toda essa história. Na minha visão, uma delas é a pena imposta pelo regulamento, a meu ver exagerada. A Portuguesa, por exemplo, perdeu quatro pontos pela infração cometida: os três da pontuação máxima que poderia ter conquistado no duelo com o Grêmio, além do ponto obtido pelo empate em 0 a 0. Já não estaria de bom tamanho a Lusa ser punida apenas com a perda do ponto ganho na partida, sobretudo por ter ficado evidente que não houve má fé nenhuma e que o clube não quis se beneficiar da presença de Héverton? Afinal, o jogador é reserva e não ficou nem 20 minutos em campo. Dessa forma, a Portuguesa voltaria aos 47 pontos, terminaria em 14º e permaneceria na série A. A confusão, portanto, seria muito menor.

Também chamou a minha atenção a reação de alguns torcedores do Fluminense após o julgamento, que por enquanto mantém a equipe na primeira divisão. Centenas deles se aglomeraram do lado de fora da sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o STJD, e comemoraram a permanência do time na elite com entusiasmo. Óbvio que cada um tem o direito de agir da maneira que achar melhor. Eu, que naturalmente também tenho o meu time, optaria por simplesmente ficar em silêncio. Aliás, me colocando no lugar de um torcedor do clube carioca, neste momento não estaria nem um pouco feliz com toda essa situação, muito menos à vontade para vibrar com a decisão do tribunal. Certamente vários tricolores também pensam assim.

O resultado de tudo isso foram várias críticas ao Fluminense e a seus torcedores, acusados de mais uma vez se beneficiarem do chamado "tapetão". Porém, a reflexão que prefiro fazer do caso é sobre algo que novamente ficou explícito: a completa incapacidade da Confederação Brasileira de Futebol de organizar o torneio nacional e evitar que a competição terminasse dessa maneira. Vale lembrar que a Portuguesa só escalou Héverton contra o Grêmio pois o advogado que representou o clube no julgamento do meia, no dia 6 de dezembro, teria dito em contato telefônico que a punição havia sido de apenas um jogo. Como o jogador já não havia atuado diante da Ponte Preta, no dia 1º de dezembro, não haveria problema em enfrentar os gremistas na última rodada.

O erro começa quando o julgamento de um jogador expulso no dia 24 de novembro, data do confronto entre Bahia e Portuguesa, é marcado para 6 de dezembro, quase duas semanas depois do fato. E o pior: na sexta-feira. Técnicos preparam esquemas de jogo durante a semana sem saber se poderão ou não contar com o atleta que passará pelo tribunal na sexta. Outra falha absurda de organização - se é que existe - é o clube depender exclusivamente de uma ligação para o advogado para saber se poderá ou não escalar o "julgado" na partida seguinte. Até porque, nesse caso, ele não está a trabalho apenas para a Lusa. No julgamento do dia 6, o advogado Oswaldo Sestário Filho defendeu outros cinco clubes. E se todos ligassem para ele na sexta-feira à noite?

A CBF até divulga em seu site oficial os resultados dos julgamentos. Mas, acreditem, somente na segunda-feira, quando a rodada já terminou. Confiram na imagem abaixo:

Resultados de julgamentos na sexta-feira são publicados dias depois

Sentença de Héverton foi divulgada um dia após a última rodada

Como não há expediente na Confederação aos finais de semana, cabe ao clube fazer esse contato, quando seria mais simples uma rápida consulta ao site da entidade após o julgamento. Não isento a Portuguesa de culpa pelo erro, mas é inegável que a CBF poderia facilitar o trabalho das agremiações. Em seu blog, o jornalista Mauro Cézar Pereira explicou o funcionamento do sistema de punição do futebol inglês. Na Terra da Rainha, a expulsão direta acarreta suspensão de três partidas, prontamente oficializada no site da FA. Foi o que aconteceu com o volante brasileiro Paulinho, do Tottenham, no último final de semana. O ex-corintiano recebeu cartão vermelho por falta dura em Luis Suárez e já sabe que não poderá atuar pelos Spurs nos próximos três jogos.

Aqueles que acompanham o futebol brasileiro, torcem, vão ao estádio e gastam com seu clube de coração têm todo o direito de se revoltar com o que aconteceu, assim como eu me revoltei. É compreensível também a indignação contra o Fluminense, que, embora tenha se beneficiado daquilo que estava escrito no regulamento previamente aceito por todos, mais uma vez não disputará a segunda divisão após ter sido rebaixado em campo. Entretanto, é preciso direcionar as críticas para aqueles que, de alguma forma, têm enorme contribuição em tudo isso, no caso a CBF, como já fez o zagueiro Paulo André ao se posicionar sobre a punição à Portuguesa. Assim, quem sabe, nos próximos anos falaremos somente daquilo por que somos apaixonados: bola rolando.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Camisa 10 e sensação do Liverpool, brasileiro Philipe Coutinho merece ser observado com atenção na Europa

Coutinho é um dos principais brasileiros do futebol europeu
A pausa de fim de ano do nosso futebol nos faz olhar com ainda mais atenção para os gramados europeus. Afinal, em algumas competições do Velho Continente, a bola não para de rolar nesse período de festas. E quem acompanhou a rodada desse final de semana das principais ligas europeias pôde ver jogadores brasileiros se destacando com boas atuações. Na Espanha, por exemplo, Neymar novamente foi o protagonista do Barcelona, dessa vez marcando os dois gols da vitória catalã por 2 a 1 sobre o Villarreal. Já na Inglaterra, o volante Fernandinho também foi às redes duas vezes e ajudou o Manchester City a golear o Arsenal por 6 a 3.

Porém, outro atleta brasileiro merece ser lembrado pelo que jogou no fim de semana. Embora não tenha feito gols como seus compatriotas, Philipe Coutinho foi peça importante do Liverpool na histórica goleada sobre o Tottenham, fora de casa, por 5 a 0, resultado que deixou os Reds na segunda posição do Campeonato Inglês a apenas dois pontos do líder Arsenal. Com as ausências do ídolo Steven Gerrard, que só deve retornar de lesão em janeiro, e do atacante Daniel Sturridge, também machucado, o camisa 10 precisou dividir com os companheiros a responsabilidade de servir Luis Suárez, o craque do time. E ele não decepcionou. Além de ter participado da jogada do segundo gol, Coutinho criou boas chances e ainda chutou uma bola no travessão do goleiro Lloris.

As boas exibições de Coutinho no Liverpool, no entanto, não são novidade. Contratado no início do ano por cerca de 8,5 milhões de libras, o meia se adaptou rapidamente ao futebol inglês e foi um dos destaques da Premier League no primeiro semestre, terminando a competição com números expressivos para um jovem recém-chegado: três gols e cinco assistências em 13 partidas. O ótimo desempenho transformou o brasileiro em esperança da torcida vermelha para a atual temporada. Entretanto, em setembro, ele sofreu uma lesão no ombro direito, passou por cirurgia e só voltou a atuar no começo de novembro, no clássico com o Arsenal. De lá até aqui, Coutinho marcou no dérbi contra o Everton, além de ter feito bons jogos diante de Fulham, Norwich e West Ham.

Para quem não se lembra, Philipe Coutinho, hoje com 21 anos, chegou ainda criança ao Vasco da Gama. Promovido à equipe principal em 2009, ano em que participou da campanha da série B, disputou o Brasileirão em 2010. Em julho desse mesmo ano, foi contratado pela Inter de Milão, que vivia um período de transição após o título da Champions com José Mourinho. Coutinho até recebeu algumas oportunidades nos nerazzurri, mas, para ganhar experiência, acabou emprestado a um clube menor, o Espanyol, rival do Barcelona na Catalunha. O brasileiro ficou na equipe espanhola entre janeiro e julho. Nesse período, jogou 16 partidas, nas quais marcou cinco gols. Retornou à Inter para disputar mais meia temporada, e em janeiro deste ano transferiu-se para o Liverpool.

As passagens por Itália e Espanha certamente foram benéficas ao ex-vascaíno, que na Inglaterra vive o melhor momento de sua carreira. A adaptação ao clube foi tão repentina que ele rapidamente caiu nas graças dos Reds. Para se ter uma ideia, em junho, o Liverpool anunciou a lista dos jogadores que mais vendiam camisas personalizadas, e a número 10 de Coutinho era a preferida dos fãs, superando na época, inclusive, a 7 de Suárez e a 8 de Gerrard. E a admiração não parte somente dos torcedores. Em entrevista recente, o técnico Brendan Rodgers reconheceu o talento do meia e disse que frequentemente relata a Luiz Felipe Scolari o desempenho do atleta no dia-a-dia. O próprio Coutinho já admitiu que ainda sonha com a Copa do Mundo de 2014.

Em menos de um ano, brasileiro já virou "mania" entre torcedores do Liverpool
Apesar disso, acho precoce falar em Philipe Coutinho para a Copa do ano que vem e até considero improvável sua convocação, embora uma vaga no meio-campo da seleção ainda esteja "disponível". Coutinho tem uma vasta experiência pelas seleções de base, com títulos sul-americanos e, em 2011, a conquista do Mundial sub-20, mas na equipe principal só teve uma chance, em outubro de 2010, contra o Irã, ainda com Mano Menezes. Talvez Felipão até pensasse em chamá-lo para alguns testes após a Copa das Confederações, mas a lesão no ombro pode ter minado as pretensões do técnico. O tempo agora é curto. Vale lembrar que o Brasil realizará apenas mais um amistoso, contra a África do Sul, antes da convocação final, marcada para 7 de maio.

Convocado ou não para a Copa, o meia será uma boa opção para o treinador que der sequência ao trabalho de Scolari após o Mundial no Brasil. E, mais importante, o brasileiro aparece também como esperança de dias melhores para o Liverpool. O tradicional clube da cidade dos Beatles é detentor de cinco títulos da Champions e o segundo maior campeão da Inglaterra, mas não levanta o título inglês desde 1990, além de ter ficado de fora das últimas três edições da Liga dos Campeões. A atual temporada tem sido diferente, e, com os gols do uruguaio Luis Suárez, a equipe retoma aos poucos o seu espaço. Cabe agora ao time se manter entre os primeiros colocados. E o dono da camisa 10 pode ser essencial para recolocar o Liverpool em seu devido lugar.

No vídeo abaixo, confira os principais lances de Philipe Coutinho em sua primeira temporada no futebol inglês. As boas atuações do brasileiro fizeram com que ele caísse rapidamente nas graças da torcida do Liverpool.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Na véspera de decisão alemã na Champions League, atacante Cacau fala sobre força e organização da Bundesliga

Dortmund ou Bayern: um deles será o novo campeão europeu
Neste sábado, as atenções do mundo da bola estarão totalmente voltadas para Londres. Borussia Dortmund e Bayern de Munique decidirão no histórico Estádio de Wembley o título da Liga dos Campeões 2012/2013. Vários fatores dão a esse jogo um sabor muito especial. Um deles é a maneira como os finalistas passaram pelos gigantes Real Madrid e Barcelona nas semifinais. É inegável que o fato de terem vencido os espanhóis de forma tão incontestável e evitado pelo segundo ano consecutivo o esperado confronto entre catalães e merengues engrandece ainda mais o feito de aurinegros e bávaros.

Mas o principal motivo de tamanha expectativa para a partida é, sem dúvida, o encontro entre dois times de um mesmo país em plena decisão, algo que não acontece com tanta frequência. Desde que a Champions passou a admitir mais de uma equipe de cada nação, na temporada 1997/1998 - vale lembrar que, antes disso, apenas os campeões nacionais tinham vaga na competição -, essa "final caseira" aconteceu somente em três ocasiões. Em 2000, o Real Madrid levou a melhor em cima do Valencia e conquistou seu oitavo título europeu. Três anos depois, em 2003, o Milan superou a rival Juventus e ficou com a taça. Na edição de 2008 foi a vez de o Manchester United vencer o Chelsea e faturar a "orelhuda", como é conhecido o troféu do torneio.

O duelo entre Bayern e Dortmund, porém, não será apenas mais um número para essa estatística. A decisão de sábado vai muito além disso e representa a força de um futebol que hoje já é referência de organização para o mundo todo, inclusive para o Brasil. Para falar sobre isso, fiz uma entrevista com o atacante Cacau, do Stuttgart, que talvez seja um dos jogadores brasileiros que melhor entendam do assunto. Cacau nasceu em Santo André e deu os seus primeiros passos como jogador em Mogi das Cruzes, mas construiu praticamente toda a carreira na Alemanha, onde está desde 1999. Por conta dessa relação com o futebol de lá, naturalizou-se alemão e chegou a defender a seleção do país na Copa do Mundo de 2010, na qual marcou um gol.

Cacau comemora gol contra a Austrália no Mundial da África do Sul
O poder da Bundeliga tem ligação direta com a maneira como os dirigentes lidam com as finanças. Passado um período negro, quando alguns clubes - inclusive o Borussia Dortmund - beiraram a falência, hoje o futebol alemão vive um ótimo momento econômico. Na temporada 2011/2012, o certame nacional movimentou 2,08 bilhões de euros, o que corresponde a um aumento de 7,2% em relação à temporada anterior. "A Bundesliga é uma liga muito sólida financeiramente. Os clubes trabalham com consciência, tentando não gastar mais do que recebem", analisou Cacau. E o que ele diz tem fundamento. Ainda referente à última temporada, um dado chama a atenção: 14 dos 18 clubes da primeira divisão tiveram um balanço positivo, ou seja, mais faturaram do que gastaram.

Se dentro de campo as coisas correm bem, nas arquibancadas as torcidas também fazem a sua parte. O Campeonato Alemão é, com folga, a liga de melhor média de público do mundo. De acordo com estudo da Pluri Consultoria, a temporada 2011/2012 da Bundesliga teve média de aproximadamente 45 mil torcedores nos estádios. A título de comparação, a média do Brasileirão de 2012 foi de 12.983, marca que até a segunda divisão da Alemanha consegue superar: 17.212. E os números de alguns clubes alemães chegam a impressionar, como é o caso do Borussia Dortmund, equipe com a maior média de público do planeta. Na última temporada, os aurinegros tiveram média de 80.552, sendo que a capacidade do Signal Iduna Park é de 80.720 lugares.

Torcida do Dortmund praticamente não deixa lugares vagos em jogos do time
Das nove equipes que completam a lista das 10 com as melhores médias, quatro são alemãs, incluindo o Stuttgart de Cacau, que é o oitavo. Um ponto que explica em parte esse "fenômeno" é o fato de os clubes da Bundesliga optarem por ingressos a baixo custo. A arrecadação com a renda acaba sendo menor do que poderia, mas é compensada com o que os torcedores consomem dentro do estádio durante a partida com alimentação e produtos oficiais do time. O atacante ainda acrescenta alguns fatores. "Os novos estádios (construídos para a Copa do Mundo de 2006, realizada na Alemanha), a segurança e a atratividade são questões que colaboram para isso. Muitas famílias vão aos jogos com seus filhos, e isso se deve a toda a infraestrutura oferecida".

E aqui é importante ressaltar que, apesar de toda essa comodidade que têm nos estádios, os torcedores alemães não deixam de cumprir a sua principal função, que é a de empurrar o time durante os 90 minutos, ou seja, ser definitivamente "um jogador a mais". Confira como é a atmosfera em um jogo do Stuttgart:



E essa força do futebol alemão tem reflexos na seleção nacional. A Alemanha parece cada vez mais próxima de dar um fim ao jejum de 24 sem ganhar a Copa do Mundo, competição da qual é tricampeã. No Mundial de 2010, com um elenco formado totalmente por jogadores da Bundesliga, o Nationalelf apresentou, a meu ver, o melhor futebol do torneio. Os alemães aplicaram goleadas históricas, como 4 a 1 em cima da Inglaterra e 4 a 0 na Argentina de Messi, mas parou nas semifinais, quando perdeu por 1 a 0 para a Espanha. Cacau, que sonha em jogar a Copa em seu país de origem, vê a seleção com condições de ir além em 2014. "A Alemanha está bem focada nesta Copa. Creio que vai chegar bem preparada ao Brasil e com chances reais de conquista".

Mesmo já vivendo uma situação tão boa, a tendência é que as coisas melhorem ainda mais na Bundesliga. E um indicativo dessa evolução é a chegada do técnico multicampeão Pep Guardiola ao Bayern, o que o atacante do Stuttgart enxerga com bons olhos. "Com certeza sua presença irá aumentar credibilidade e a visibilidade da liga. Com isso, acredito também que grandes jogadores serão atraídos pelo futebol alemão". Certo é que esses craques já têm vários motivos para adicionarem a liga alemã aos seus currículos, e a tão aguardada decisão de sábado só os reforça. Para essa final, aliás, Cacau já tem o seu palpite. "As duas equipes fizeram um excelente trabalho nos últimos anos e agora colhem os frutos. Mas penso que o Bayern tem mais chances de título".

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Felipão abre mão de atletas experientes e acostumados a "jogos grandes". Com isso, aumenta a pressão sobre Neymar

Ramires, uma das principais ausências da convocação
Luiz Felipe Scolari convocou na última terça-feira a seleção brasileira para a disputa da Copa das Confederações, em junho. Ao todo, foram chamados 23 jogadores, que se apresentam no dia 27 de maio para o início da preparação. Na lista, algumas questões merecem ser destacadas. Uma delas é a grande quantidade de atletas que atuam no Brasil: 11, quatro a mais em relação à convocação de Dunga para o mesmo torneio em 2009 e sete em comparação com o grupo de 2005, comandado por Carlos Alberto Parreira. Esse é mais um indício do fortalecimento do mercado brasileiro nos últimos anos.

Outro ponto que chamou a minha atenção foi a média de idade. Esse elenco de Felipão tem uma média de 26 anos, que em 2014 será de 27 se os convocados para a Copa do Mundo forem os mesmos. Os números mostram que a seleção rejuvenesceu se comparada com a do Mundial de 2010, com média de 28,6 anos. E tal mudança é compreensível, já que alguns "medalhões" cederam espaço a talentos como Lucas, Oscar e Neymar. Ao mesmo tempo, dá para dizer que esse grupo não é tão jovem como muitos acreditam. Para se ter uma ideia, o Brasil foi a apenas quatro Copas com média de idade superior a 27: 1962, 1994, 2006 e 2010. Sem falar que a convocação de Scolari conta com 14 atletas acima de 25 anos, e quatro têm 30 ou mais.

Mas é preciso analisar o outro lado da moeda. Embora não seja uma seleção tão nova, vale ressaltar que, entre os 23 convocados, apenas Júlio César, Thiago Silva, Daniel Alves e Fred já disputaram uma Copa do Mundo. Além disso, o time de Felipão conta com um protagonista muito jovem: Neymar. Por ser tecnicamente o atleta diferenciado dessa equipe, é normal que grande parte da pressão pelos resultados caia sobre o santista. É dele que o torcedor brasileiro sempre vai esperar um lance decisivo, principalmente nos momentos complicados de uma partida. O problema é que Neymar terá somente 22 anos em junho do ano que vem, muito pouco para lidar com a quase obrigação de evitar um novo "Maracanaço" e conduzir o Brasil ao esperado título em casa.

E é até pela idade e por nunca ter atuado na Europa que Neymar, a meu ver, ainda está pouco acostumado aos "jogos grandes", cuja repercussão ultrapassa os limites da América do Sul, como será no Mundial do Brasil. Reconheço que o santista já participou de duelos importantes por aqui, como os clássicos e a decisão da Libertadores de 2011. Mas essas não são pelejas que o planeta inteiro acompanha e nas quais a pressão naturalmente é maior. Neymar talvez tenha sentido isso somente naquela goleada de 4 a 0 para o Barcelona, em 2011. Se a seleção disputasse, as Eliminatórias até poderiam dar um pouco de rodagem a ele, sobretudo os jogos contra a Argentina. Amistosos contra seleções tradicionais ajudam, mas não têm o peso de uma competição.

Por esse motivo não concordei com as ausências de Ramires e Ronaldinho. Os dois seriam úteis não só do ponto de vista técnico, mas principalmente para dividir a responsabilidade com Neymar, já que estão habituados com jogos de grande apelo. Ramires, por exemplo, chegou ao Chelsea em 2010, e desde então já disputou várias partidas de repercussão mundial, chegando a marcar gols decisivos. Foi assim na final da FA Cup, contra o Liverpool, e nas semifinais da Champions diante do Barcelona, em pleno Camp Nou, ambos em 2012. Essa experiência em jogos desse tipo pode fazer a diferença em 2014, que será um ano de muita pressão sobre o time brasileiro. Por isso acredito que Kaká também tenha espaço, embora não jogue com frequência no Real Madrid.

As razões que levaram Felipão a não convocar Ramires e Ronaldinho ainda não são claras. Fala-se muito que questões disciplinares interferiram na escolha do técnico, o que, na minha visão, é um erro. Atualmente, a seleção não pode se dar ao luxo de recusar jogadores desse nível. Tive a mesma opinião quando Mano Menezes deixou de fora de várias convocações o lateral-esquerdo Marcelo, que hoje é absoluto na posição. Também é possível cogitar a hipótese de uma "repreensão momentânea" e de o treinador recolocar os dois no grupo até a Copa do Mundo. Para mim seria uma decisão correta, mas nesse caso o técnico já teria perdido a melhor chance de dar uma cara à equipe com que deseja contar no Mundial de 2014, que é a Copa das Confederações.

Apenas como curiosidade, a minha convocação seria a seguinte:

Goleiros: Júlio César (Queens Park Rangers-ING), Diego Cavalieri (Fluminense) e Diego Alves (Valencia-ESP)

Defensores: Thiago Silva (PSG-FRA), David Luiz (Chelsea-ING), Dante (Bayern-ALE), Réver (Atlético Mineiro), Daniel Alves (Barcelona-ESP), Rafael (Manchester United-ING), Marcelo (Real Madrid-ESP) e Adriano (Barcelona-ESP)

Meio-campistas: Ralf (Corinthians), Fernando (Grêmio), Paulinho (Corinthians), Ramires (Chelsea-ING), Hernanes (Lazio-ITA), Ronaldinho (Atlético Mineiro), Kaká (Real Madrid-ESP), Oscar (Chelsea-ING) e Lucas (PSG-FRA)

Atacantes: Neymar (Santos), Alexandre Pato (Corinthians) e Fred (Fluminense)

No vídeo abaixo, relembre como foi o decisivo gol de Ramires contra o Barcelona nas semifinais da Champions 2011/2012. Experiência do ex-cruzeirense em jogos como esse pode ser fundamental para uma seleção com um protagonista tão jovem.



Fonte de pesquisa: Trivela.com.br

domingo, 17 de março de 2013

Milan e Arsenal ofereceram resistência surpreendente, mas não podem se contentar com "façanhas" como essas

O francês Niang, de 18 anos, desperdiçou chance crucial
Em dezembro, logo depois do sorteio das oitavas-de-final, escrevi que Milan e Arsenal provavelmente pagariam caro por terem se classificado na segunda posição de seus grupos na Liga dos Campeões. A liderança era bastante acessível para ambos, mas os dois não aproveitaram e foram obrigados a encarar o primeiro colocado de uma outra chave no mata-mata. Nesta semana, as expectativas se confirmaram, e rossoneri e Gunners deram adeus à competição: na terça, o Milan perdeu para o Barcelona, enquanto um dia depois foi a vez de o Arsenal cair diante do Bayern de Munique.

Resultados finais à parte, vale destacar a dificuldade, de certo modo surpreendente, que Milan e Arsenal ofereceram aos rivais, hoje sem dúvida nenhuma superiores. A equipe italiana conseguiu algo improvável ao vencer o primeiro jogo em San Siro: 2 a 0. O resultado fez com que muitos, inclusive eu, acreditassem em uma eliminação dos catalães antes das quartas-de-final, o que não acontece desde 2007. Afinal, um único gol do Milan na partida da volta obrigaria o Barcelona a fazer quatro. O francês M'Baye Niang até teve a chance de marcar na etapa inicial e encaminhar a classificação milanista, mas chutou na trave. Do outro lado, Messi e seus companheiros, que ainda formam o melhor time do mundo, não desperdiçaram as oportunidades e venceram por 4 a 0.

Com o Arsenal aconteceu o contrário, pois o time londrino perdeu a primeira partida por 3 a 1 em seu estádio. Natural que, depois de um revés como esse, a maioria das pessoas esperasse um passeio do Bayern no jogo da volta, na Alemanha. A equipe inglesa, no entanto, se aproveitou de uma atuação ruim e incomum dos bávaros para aplicar um 2 a 0, com direito a pressão nos últimos minutos, em pleno Allianz Arena. A vitória não foi suficiente para o Arsenal, que perdeu no critério dos gols fora, mas os Gunners certamente saíram de Munique de cabeça erguida, já que tinham feito frente a um adversário muito forte: o Bayern é o virtual campeão da Bundesliga com 22 vitórias em 26 partidas e já abriu nada menos do que 20 pontos para o vice-líder Borussia Dortmund.

Porém, contentar-se com "façanhas" como essas é pouco, especialmente no caso do Milan, que tem enorme tradição no torneio - o clube já faturou a Liga dos Campeões sete vezes, duas a menos que o Real Madrid, o mais vitorioso. O fato é que, mesmo tendo vencido o Barcelona de maneira heroica em um dos jogos, os rossoneri não prosseguiram e mais uma vez abandonaram precocemente a competição. É importante lembrar que após 2007, ano em que foi campeão, o Milan não voltou a fazer uma grande campanha continental. O melhor desempenho na Champions desde o último título foi na temporada passada, quando perdeu justamente para o Barça nas quartas-de-final. De 2007 até aqui foram outras três participações e três eliminações nas oitavas.

Sobre o sorteio das quartas-de-final, realizado na sexta-feira, é possível apontar favoritos na maioria dos confrontos, embora a confirmação nem sempre ocorra na prática. O Málaga vem fazendo história em sua primeira participação na Champions e foi o responsável, aliás, por ter deixado o Milan na segunda colocação do grupo C. Entretanto, é azarão no duelo com o Borussia Dortmund, de campanha espetacular e invicto juntamente com a Juventus. Já Real Madrid x Galatasaray tem vários atrativos, como o reencontro de José Mourinho com seus ex-comandados Wesley Sneijder e Didier Drogba, além do duelo entre os artilheiros Burak Yilmaz e Cristiano Ronaldo, cada um com oito gols, mas é o jogo em que a balança mais pende para um dos lados: o dos espanhóis.

Os outros dois jogos reúnem quatro líderes de seus campeonatos locais, três deles já com o título encaminhado. O Barcelona, soberano no Espanhol, encara o PSG, que briga com Lyon e Olympique pela taça na França. Mas o fato de ainda dividir atenções com a Ligue One nem é o maior problema para a equipe parisiense, e sim a possibilidade de no primeiro jogo não contar com Zlatan Ibrahimovic, suspenso por duas partidas após expulsão na ida das oitavas com o Valencia - a diretoria do PSG irá recorrer da decisão. Bayern x Juventus é, na teoria, o embate mais equilibrado da fase. Não fosse a irreconhecível exibição na derrota por 2 a 0 para o Arsenal, talvez os bávaros entrassem com mais favoritismo, que no momento é pequeno a favor dos atuais vice-campeões.

Confira os duelos das quartas-de-final:

Málaga x Borussia Dortmund (ida em Málaga e volta em Dortmund)
Real Madrid x Galatasaray (ida em Madri e volta em Istambul)
PSG x Barcelona (ida em Paris e volta em Barcelona)
Bayern x Juventus (ida em Munique e volta em Turim)

Já eliminados, últimos brilhos de Arsenal e Milan na Champions aconteceram há algum tempo. Os Gunners chegaram à final em 2006, quando perderam para o Barcelona (primeiro vídeo), e o Milan conquistou o heptacampeonato sobre o Liverpool em 2007, ainda com Kaká (segundo vídeo).



sábado, 26 de janeiro de 2013

Campeonatos estaduais ainda são prejudiciais a muitas equipes. Atlético-PR optou por caminho mais inteligente

Atlético-PR, de Ricardo Drubscky, "driblou" o estadual
Começaram no último final de semana alguns dos principais campeonatos estaduais do Brasil. Eles serão disputados até o dia 19 de maio, isto é, ocuparão longos quatro meses do calendário do futebol nacional. Diante desse cenário, naturalmente voltam à tona aqueles questionamentos antigos e ignorados pela maioria dos dirigentes brasileiros: o que essas competições acrescentam? Não é hora de promover mudanças? A meu ver, é inegável que a duração desses torneios está longe de ser equivalente à sua importância nos dias de hoje, especialmente para os clubes que já têm muitos deles em seus currículos.

Do ponto de vista técnico, vencer um estadual nem é uma missão tão árdua para os times grandes, que evidentemente estão vários degraus acima dos demais adversários. Porém, para conquistar o título, é preciso enfrentar uma quantidade de partidas desproporcional à relevância desses campeonatos. No Paraná, são necessários 24 jogos para levantar a taça. Nos estaduais de Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo, é possível um time alcançar a marca das 23 pelejas na caminhada até o caneco. Bahia, Goiás e Santa Catarina não ficam muito atrás: equipes desses estados podem entrar em campo até 22 vezes. No Rio de Janeiro, o máximo é 21. Quem se destaca positivamente nesse quesito é Minas Gerais, onde o campeão faz somente 15 partidas.

A principal consequência desses números é a sobrecarga provocada nas equipes. O São Paulo, que em 2013 disputará Campeonato Paulista, Brasileirão, Sul-Americana, Recopa, Copa Suruga, Libertadores e, se for campeão, o Mundial de Clubes, pode fazer 90 partidas oficiais neste ano, algo em torno de um compromisso a cada quatro dias. E o grande problema é que não há tempo de se preparar adequadamente para "maratonas" como essa: somente 38 dias separaram o último jogo de 2012, a final da Sul-Americana com o Tigre, do duelo com o Mirassol, pela estreia no Paulistão. A título de comparação, o intervalo entre as temporadas 2011/2012 e 2012/2013 na Inglaterra foi de 91 dias. Os dados acima foram levantados pelo blog do jornalista Mauro Cezar Pereira.

Na maioria dos estaduais, uma mudança de formato é suficiente para aliviar essa situação. No Paulistão,  somente após as exageradas 19 rodadas da primeira fase é que são definidos os oito classificados. Por que não alterar essa forma de disputa? Não defendo a diminuição da quantidade de clubes de menor expressão, até porque acho legal ver o interior se mobilizando para receber os grandes. Portanto, eu recorreria à formação de quatro grupos com cinco times (entre eles um clube grande), que se enfrentariam em turno e returno em oito rodadas. Depois disso, os dois melhores da chave avançariam ao mata-mata. Seria viável até fazer as quartas e as semifinais em ida e volta, o que hoje não acontece. Nesse formato, os finalistas teriam 15, e não 23 jogos até a decisão.

Reduzir o número de partidas de uma competição, no entanto, envolve uma série de fatores, e um deles diz respeito às transmissões de televisão. Hoje em dia, para terem o direito de exibir os jogos, emissoras pagam uma fortuna aos grandes clubes, que já se veem reféns desse dinheiro e, assim, não podem ir de encontro aos interesses da TV. Para exemplificar essa "dependência", tomo como referência o Corinthians, agremiação mais rica do Brasil atualmente. Um relatório referente ao balanço de 2011 aponta que as cinco principais fontes de receita - TV, negociação de atletas, patrocínios, departamento social e arrecadação em jogos - renderam aos corintianos R$ 275,8 milhões. Desse valor, nada menos que R$ 112,5 milhões - ou 40,7% - vieram da televisão.

Enquanto isso, treinadores buscam alternativas mais úteis do que os estaduais. O Atlético Paranaense enviou seu time principal para a Espanha, onde participará de um torneio amistoso com outros sete clubes do leste europeu. Assim, além de não precisar interromper sua preparação para disputar o campeonato estadual - quem defenderá o rubro-negro no início é a equipe sub-23 -, o Atlético promoverá a sua marca em território internacional. Esse é, aliás, outro ponto importante. Os clubes brasileiros deixam de fazer excursões à Europa por conta dos compromissos por aqui, vários deles desnecessários. Se nada mudar, ou perderão os estaduais, que verão cada vez mais times reservas em campo, ou as equipes, se não perceberem que podem inovar como o Furacão.

Cada vez mais fracos e desinteressantes, os campeonatos estaduais de todo o Brasil oferecem pouquíssimos atrativos para quem os acompanha. Em São Paulo, um deles é Neymar, que protagonizou lances sensacionais na vitória do Santos por 3 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto.