terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Fluminense não pode ser único alvo de críticas pelo rebaixamento da Portuguesa. CBF também tem sua parcela de culpa

Escalação irregular de Héverton custou rebaixamento da Lusa
O Brasileirão de 2013 terminou no final de semana do dia 8, com a disputa da 38ª e última rodada. Na teoria, pois na prática a competição ainda está em andamento. Não nos gramados, como nos acostumamos e queríamos ver, mas nos tribunais. Nesta segunda-feira, foi realizado o julgamento do "caso Héverton", que acabou com a punição e o consequente rebaixamento da Portuguesa à segunda divisão. Julgamento que, aliás, se assemelhou bastante a uma peleja do Campeonato Brasileiro, com transmissão ao vivo de emissoras de televisão e torcedores entoando cantos do lado de fora. Só que, dessa vez, o protagonismo coube aos "engravatados", e não aos jogadores.

Para quem ainda não entendeu o caso, a Lusa foi punida com a perda de quatro pontos por ter escalado o meia Héverton no jogo contra o Grêmio, pela última rodada do torneio. O atleta entrou somente aos 32 minutos do segundo tempo e em nada interferiu no empate em 0 a 0, mas não poderia estar em campo. Isso porque Héverton foi expulso no duelo com o Bahia, pela 36ª rodada. Como de costume, cumpriu suspensão automática na rodada seguinte, contra a Ponte Preta, e depois foi a julgamento, onde acabou pegando mais um jogo de gancho. Essa punição deveria ter sido cumprida no embate com os gremistas, o que não aconteceu. Com isso, a Portuguesa perdeu quatro pontos e foi parar na zona de rebaixamento, "salvando" o Fluminense da segundona.

Várias questões podem ser discutidas em toda essa história. Na minha visão, uma delas é a pena imposta pelo regulamento, a meu ver exagerada. A Portuguesa, por exemplo, perdeu quatro pontos pela infração cometida: os três da pontuação máxima que poderia ter conquistado no duelo com o Grêmio, além do ponto obtido pelo empate em 0 a 0. Já não estaria de bom tamanho a Lusa ser punida apenas com a perda do ponto ganho na partida, sobretudo por ter ficado evidente que não houve má fé nenhuma e que o clube não quis se beneficiar da presença de Héverton? Afinal, o jogador é reserva e não ficou nem 20 minutos em campo. Dessa forma, a Portuguesa voltaria aos 47 pontos, terminaria em 14º e permaneceria na série A. A confusão, portanto, seria muito menor.

Também chamou a minha atenção a reação de alguns torcedores do Fluminense após o julgamento, que por enquanto mantém a equipe na primeira divisão. Centenas deles se aglomeraram do lado de fora da sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o STJD, e comemoraram a permanência do time na elite com entusiasmo. Óbvio que cada um tem o direito de agir da maneira que achar melhor. Eu, que naturalmente também tenho o meu time, optaria por simplesmente ficar em silêncio. Aliás, me colocando no lugar de um torcedor do clube carioca, neste momento não estaria nem um pouco feliz com toda essa situação, muito menos à vontade para vibrar com a decisão do tribunal. Certamente vários tricolores também pensam assim.

O resultado de tudo isso foram várias críticas ao Fluminense e a seus torcedores, acusados de mais uma vez se beneficiarem do chamado "tapetão". Porém, a reflexão que prefiro fazer do caso é sobre algo que novamente ficou explícito: a completa incapacidade da Confederação Brasileira de Futebol de organizar o torneio nacional e evitar que a competição terminasse dessa maneira. Vale lembrar que a Portuguesa só escalou Héverton contra o Grêmio pois o advogado que representou o clube no julgamento do meia, no dia 6 de dezembro, teria dito em contato telefônico que a punição havia sido de apenas um jogo. Como o jogador já não havia atuado diante da Ponte Preta, no dia 1º de dezembro, não haveria problema em enfrentar os gremistas na última rodada.

O erro começa quando o julgamento de um jogador expulso no dia 24 de novembro, data do confronto entre Bahia e Portuguesa, é marcado para 6 de dezembro, quase duas semanas depois do fato. E o pior: na sexta-feira. Técnicos preparam esquemas de jogo durante a semana sem saber se poderão ou não contar com o atleta que passará pelo tribunal na sexta. Outra falha absurda de organização - se é que existe - é o clube depender exclusivamente de uma ligação para o advogado para saber se poderá ou não escalar o "julgado" na partida seguinte. Até porque, nesse caso, ele não está a trabalho apenas para a Lusa. No julgamento do dia 6, o advogado Oswaldo Sestário Filho defendeu outros cinco clubes. E se todos ligassem para ele na sexta-feira à noite?

A CBF até divulga em seu site oficial os resultados dos julgamentos. Mas, acreditem, somente na segunda-feira, quando a rodada já terminou. Confiram na imagem abaixo:

Resultados de julgamentos na sexta-feira são publicados dias depois

Sentença de Héverton foi divulgada um dia após a última rodada

Como não há expediente na Confederação aos finais de semana, cabe ao clube fazer esse contato, quando seria mais simples uma rápida consulta ao site da entidade após o julgamento. Não isento a Portuguesa de culpa pelo erro, mas é inegável que a CBF poderia facilitar o trabalho das agremiações. Em seu blog, o jornalista Mauro Cézar Pereira explicou o funcionamento do sistema de punição do futebol inglês. Na Terra da Rainha, a expulsão direta acarreta suspensão de três partidas, prontamente oficializada no site da FA. Foi o que aconteceu com o volante brasileiro Paulinho, do Tottenham, no último final de semana. O ex-corintiano recebeu cartão vermelho por falta dura em Luis Suárez e já sabe que não poderá atuar pelos Spurs nos próximos três jogos.

Aqueles que acompanham o futebol brasileiro, torcem, vão ao estádio e gastam com seu clube de coração têm todo o direito de se revoltar com o que aconteceu, assim como eu me revoltei. É compreensível também a indignação contra o Fluminense, que, embora tenha se beneficiado daquilo que estava escrito no regulamento previamente aceito por todos, mais uma vez não disputará a segunda divisão após ter sido rebaixado em campo. Entretanto, é preciso direcionar as críticas para aqueles que, de alguma forma, têm enorme contribuição em tudo isso, no caso a CBF, como já fez o zagueiro Paulo André ao se posicionar sobre a punição à Portuguesa. Assim, quem sabe, nos próximos anos falaremos somente daquilo por que somos apaixonados: bola rolando.

Um comentário:

  1. CONCORDO PLENAMENTE, EM SE FAZER CULPADA A CBF, QUE, COMO SEMPRE DEIXA BRECHAS, INOPORTUNAS, PARA BENEFICIAREM OPORTUNISTAS E AGREMIAÇÕES INCOMPETENTES DE CONSEGUIREM A PONTUAÇÃO REAL ONDE REALMENTE SE ESPERA, NO CAMPO. PARABÉNS PELO ARTIGO. ABÇOS, DORI BARROS.

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