Parreira e Felipão depositaram confiança exagerada no grupo |
Quando o árbitro apitou o fim da histórica goleada por 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil, Luiz Felipe Scolari partiu em direção ao campo e gesticulou, assumindo a responsabilidade pelo vexame que acabara de acontecer no gramado do Mineirão. Horas depois, na coletiva de imprensa, o técnico reconheceu que teve culpa na derrota, a maior dos 100 anos de existência da Seleção Brasileira. "Quem é o responsável quando a equipe se apresenta? Quem é colocado como técnico? Quem é o responsável pelas escolhas? Sou eu.", declarou Felipão.
É inegável que os problemas vão muito além das quatro linhas. Antes mesmo desse massacre alemão já sabíamos que há vários pontos da estrutura interna do futebol brasileiro a serem discutidos e corrigidos. A derrota incontestável do Santos para o Barcelona por 4 a 0, em 2011, já havia sido um sinal de que é preciso renovar a cúpula do nosso futebol, formada em sua imensa maioria por dirigentes que estão no poder há anos. Porém, difícil acreditar em uma grande mudança sabendo que Marco Polo Del Nero, atual vice-presidente da CBF, assumirá a presidência da entidade em abril de 2015. E o pior: José Maria Marin, atual presidente da Confederação, será seu vice. Ou seja, mudam-se de lugar as peças do quebra-cabeça, mas elas são sempre as mesmas.
No entanto, esses fatos não isentam Scolari e sua comissão técnica de culpa na decepcionante campanha brasileira. Desde que assumiu, em novembro de 2012, o treinador do penta teve tempo suficiente para formar um time coeso com as boas peças que tinha à disposição. Não foi o que aconteceu. No Mundial, em raríssimos momentos vimos o Brasil jogar como equipe. Tanto que, das cinco partidas antes da eliminação, em duas (Croácia e Camarões) a Seleção dependeu do talento individual de Neymar, em uma (Chile) das defesas de Júlio César e em outra (Colômbia) da bola parada nos dois gols. Algumas falhas táticas, inclusive, já haviam aparecido na Copa das Confederações, mas acabaram "ofuscadas" pela boa atuação diante da Espanha na final.
Para piorar, nos momentos mais complicados, outro importante problema veio à tona: o desequilíbrio emocional. E, nesse quesito, Felipão e o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira erraram na dose. Logo em sua primeira coletiva pela Seleção, Scolari já adiantou: o Brasil tem a obrigação de ser campeão em casa. Um ano depois, em outubro de 2013, o treinador reforçou essa ideia. Em maio deste ano, quando o grupo estava concentrado na Granja Comary, Parreira também entrou na onda: "Brasil já tem uma mão na taça". Afirmar isso com tanta propriedade soa até como arrogância em uma época em que o futebol é tão equilibrado e quando temos gerações tão ou até mais talentosas que a brasileira, como a própria Alemanha de Joachim Löw.
Com declarações como essa, ao invés de aumentar a confiança dos jogadores, a comissão técnica acabou colocando sobre o grupo uma pressão que muitos atletas não estavam preparados para suportar. E isso é totalmente compreensível para uma Seleção que, no setor ofensivo, tem como protagonistas dois jovens muito talentosos, mas de apenas 22 anos - Oscar e Neymar. Alguns podem lembrar que Ronaldinho Gaúcho foi titular com essa mesma idade na campanha do pentacampeonato, em 2002. A diferença é que, naquela época, o meia tinha ao seu lado os consagrados Rivaldo e Ronaldo. A obrigação de resolver as partidas era dos dois, e não do jovem do PSG. Foi nesse cenário que Ronaldinho também se tornou peça fundamental daquele time.
Outras atitudes de Felipão e Parreira durante a Copa dividem opiniões. Uma delas é a reunião que a comissão técnica convocou com seis jornalistas após as oitavas-de-final. Óbvio que é direito do treinador analisar outros pontos-de-vista. Entretanto, tal medida naquele momento passou a impressão de que Scolari não tinha plena convicção do que estava fazendo. Querendo ou não, essa insegurança é transmitida para o grupo, ainda mais porque o técnico, nessa mesma reunião, revelou estar arrependido de ter levado um dos 23 convocados. Como fica o lado psicológico do atleta sabendo que esse jogador pode ser ele? Além disso, pedir o apoio da imprensa àquela altura não faria o time render mais dentro de campo. A prioridade de Felipão deveria ter sido outra.
Erros pontuais como esses precisam ser mencionados para que não se repitam com o sucessor de Scolari na Seleção. Porém, como já disse, é importante ter consciência de que os problemas do futebol brasileiro extrapolam as quatro linhas. Calendário apertado, gramados ruins, baixa média de público nos torneios nacionais. Tudo isso precisa ser revisto. Na última década, a Alemanha passou por várias mudanças em seu futebol. Elas resultaram em um torneio nacional que se tornou referência de organização para todo o planeta, a Bundesliga, e em uma seleção preparada para ser campeã do mundo. Falei sobre isso aqui no blog quando Bayern de Munique e Borussia Dortmund, dois clubes alemães, decidiram a Champions League na temporada 2012/2013.
Também é importante ressaltar que, apesar da vexatória eliminação, esse grupo não é ruim. Aliás, eu discordo de quem diz que a atual safra brasileira não é boa. Alguns jogadores já beiram ou irão beirar os 30 anos em 2018, mas ainda têm condições de serem aproveitados na sequência do trabalho, casos de Thiago Silva (29 anos), David Luiz (27), Marcelo (26), Ramires (27) e Hernanes (28), além dos jovens Oscar (22), Bernard (21) e Neymar (22). Uma base com ótimos atletas o futuro treinador terá. A missão agora não é renovar a Seleção como fez Dunga em 2010, e sim fazer com que essas "engrenagens" funcionem em conjunto. Algo que Felipão não conseguiu. Por isso, merece ser responsabilizado pelo que aconteceu no inesquecível 8 de julho de 2014.
No vídeo abaixo, confira o momento em que Carlos Alberto Parreira afirma que o Brasil "já tinha uma mão na taça". Confiança da comissão técnica no elenco era grande antes mesmo de a Seleção entrar em campo.
É inegável que os problemas vão muito além das quatro linhas. Antes mesmo desse massacre alemão já sabíamos que há vários pontos da estrutura interna do futebol brasileiro a serem discutidos e corrigidos. A derrota incontestável do Santos para o Barcelona por 4 a 0, em 2011, já havia sido um sinal de que é preciso renovar a cúpula do nosso futebol, formada em sua imensa maioria por dirigentes que estão no poder há anos. Porém, difícil acreditar em uma grande mudança sabendo que Marco Polo Del Nero, atual vice-presidente da CBF, assumirá a presidência da entidade em abril de 2015. E o pior: José Maria Marin, atual presidente da Confederação, será seu vice. Ou seja, mudam-se de lugar as peças do quebra-cabeça, mas elas são sempre as mesmas.
No entanto, esses fatos não isentam Scolari e sua comissão técnica de culpa na decepcionante campanha brasileira. Desde que assumiu, em novembro de 2012, o treinador do penta teve tempo suficiente para formar um time coeso com as boas peças que tinha à disposição. Não foi o que aconteceu. No Mundial, em raríssimos momentos vimos o Brasil jogar como equipe. Tanto que, das cinco partidas antes da eliminação, em duas (Croácia e Camarões) a Seleção dependeu do talento individual de Neymar, em uma (Chile) das defesas de Júlio César e em outra (Colômbia) da bola parada nos dois gols. Algumas falhas táticas, inclusive, já haviam aparecido na Copa das Confederações, mas acabaram "ofuscadas" pela boa atuação diante da Espanha na final.
Para piorar, nos momentos mais complicados, outro importante problema veio à tona: o desequilíbrio emocional. E, nesse quesito, Felipão e o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira erraram na dose. Logo em sua primeira coletiva pela Seleção, Scolari já adiantou: o Brasil tem a obrigação de ser campeão em casa. Um ano depois, em outubro de 2013, o treinador reforçou essa ideia. Em maio deste ano, quando o grupo estava concentrado na Granja Comary, Parreira também entrou na onda: "Brasil já tem uma mão na taça". Afirmar isso com tanta propriedade soa até como arrogância em uma época em que o futebol é tão equilibrado e quando temos gerações tão ou até mais talentosas que a brasileira, como a própria Alemanha de Joachim Löw.
Com declarações como essa, ao invés de aumentar a confiança dos jogadores, a comissão técnica acabou colocando sobre o grupo uma pressão que muitos atletas não estavam preparados para suportar. E isso é totalmente compreensível para uma Seleção que, no setor ofensivo, tem como protagonistas dois jovens muito talentosos, mas de apenas 22 anos - Oscar e Neymar. Alguns podem lembrar que Ronaldinho Gaúcho foi titular com essa mesma idade na campanha do pentacampeonato, em 2002. A diferença é que, naquela época, o meia tinha ao seu lado os consagrados Rivaldo e Ronaldo. A obrigação de resolver as partidas era dos dois, e não do jovem do PSG. Foi nesse cenário que Ronaldinho também se tornou peça fundamental daquele time.
Contexto era outro quando Ronaldinho Gaúcho foi decisivo em 2002 |
Erros pontuais como esses precisam ser mencionados para que não se repitam com o sucessor de Scolari na Seleção. Porém, como já disse, é importante ter consciência de que os problemas do futebol brasileiro extrapolam as quatro linhas. Calendário apertado, gramados ruins, baixa média de público nos torneios nacionais. Tudo isso precisa ser revisto. Na última década, a Alemanha passou por várias mudanças em seu futebol. Elas resultaram em um torneio nacional que se tornou referência de organização para todo o planeta, a Bundesliga, e em uma seleção preparada para ser campeã do mundo. Falei sobre isso aqui no blog quando Bayern de Munique e Borussia Dortmund, dois clubes alemães, decidiram a Champions League na temporada 2012/2013.
Também é importante ressaltar que, apesar da vexatória eliminação, esse grupo não é ruim. Aliás, eu discordo de quem diz que a atual safra brasileira não é boa. Alguns jogadores já beiram ou irão beirar os 30 anos em 2018, mas ainda têm condições de serem aproveitados na sequência do trabalho, casos de Thiago Silva (29 anos), David Luiz (27), Marcelo (26), Ramires (27) e Hernanes (28), além dos jovens Oscar (22), Bernard (21) e Neymar (22). Uma base com ótimos atletas o futuro treinador terá. A missão agora não é renovar a Seleção como fez Dunga em 2010, e sim fazer com que essas "engrenagens" funcionem em conjunto. Algo que Felipão não conseguiu. Por isso, merece ser responsabilizado pelo que aconteceu no inesquecível 8 de julho de 2014.
No vídeo abaixo, confira o momento em que Carlos Alberto Parreira afirma que o Brasil "já tinha uma mão na taça". Confiança da comissão técnica no elenco era grande antes mesmo de a Seleção entrar em campo.
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirEu sei que 7x1 desanima, mas aconteceram coisas boas no esporte desde então. Está na hora de superar isso. (risos)
Você deveria voltar a escrever, ou pelo menos deixar um último texto, mais "alegrinho" (risos)
Beijos