quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A despedida de "São Marcos", ídolo palmeirense, herói brasileiro e unanimidade dentro ou fora dos gramados


Um dos principais mandamentos seguidos pelos jornalistas diz que, independente da ocasião, é preciso manter a imparcialidade, sobretudo na área esportiva. E, como a emoção fica à frente da razão na maioria dos casos, vários profissionais do ramo optam por não revelar suas preferências no futebol, inevitáveis em um país que respira esse esporte. Porém, a carreira do goleiro Marcos naturalmente se confunde com a minha paixão pelo Palmeiras - que, em momento algum, me impede de elogiar ou criticar os "rivais" palmeirenses. Quando soube que o camisa 12, meu maior ídolo de infância, abandonaria os gramados, confesso que meus olhos logo se encheram de lágrimas. Nunca mais veria debaixo das três traves em uma partida oficial aquele jogador que muitas vezes me inspirou nas tradicionais peladas com os amigos e, principalmente, na vida.

O currículo de Marcos é mais do que rico. Pela equipe alviverde, à qual chegou em 1992 - por coincidência, ano do meu nascimento -, conquistou 13 títulos, não sendo possível, infelizmente, detalhar todos eles. No entanto, três momentos que marcaram a minha trajetória como palmeirense e nos quais o goleiro exerceu fundamental papel merecem destaque maior. A começar pelo título da Libertadores de 1999, que teve o arqueiro do Palmeiras como principal atleta. Àquela época, eu tinha apenas 6 anos, mas pude perceber a importância daquele jogador à história do meu clube e já gritava "São Marcos", apelido que ganhou devido às milagrosas defesas na campanha vencedora do torneio continental, a cada salto para pegar a bola no quintal da minha casa. E, apesar da pouca idade, tomei uma decisão que perdura até os dias de hoje: Marcos era o meu grande ídolo.

Um ano depois, em 2000, o bicampeonato da Libertadores não veio, mas a alegria de nós, palmeirenses, na semifinal foi semelhante à do título de 1999. Palmeiras e Corinthians decidiram nos pênaltis quem enfrentaria o Boca Juniors na final da competição, e o time alviverde levou a melhor graças a Marcos, que defendeu a penalidade cobrada por Marcelinho Carioca, ídolo do rival. Em 2009, já mais consciente do que representava o clube na minha vida, assisti a um duelo do qual, sem dúvida, nunca me esquecerei. Novamente nos pênaltis, a especialidade do goleiro, Palmeiras e Sport se enfrentaram nas oitavas-de-final da Libertadores em plena Ilha do Retiro, onde os pernambucanos haviam conquistado a Copa do Brasil no ano anterior sobre o Corinthians. Marcos, mais uma vez, não decepcionou, fez jus à fama de "santo" e pegou três penalidades.

A grandeza de Marcos, entretanto, não se limitou à torcida do Palmeiras e se estendeu a todo o país após o título da Copa do Mundo de 2002. Muito se fala, e merecidamente, dos dois gols de Ronaldo na final contra a Alemanha, da genialidade de Rivaldo, que comandou o meio-campo da equipe de Felipão ao longo do torneio, e do golaço de falta de Ronaldinho Gaúcho anotado diante dos ingleses nas quartas-de-final. Por trás de tudo isso, porém, estava Marcos, que deu muita segurança à meta brasileira, sofrendo só 4 gols em 7 partidas. As principais atuações aconteceram no difícil confronto contra a Bélgica pelas oitavas-de-final e, obviamente, na decisão contra os alemães, sobretudo quando o jogo ainda estava empatado em 0 a 0. Com a seleção brasileira, Marcos também conquistou a Copa América de 1999 e a Copa das Confederações de 2005.

"Apenas" a conquista da Copa do Mundo não justifica a adoração que todos têm por Marcos. Afinal, outros goleiros foram campeões da competição máxima do futebol com a seleção e nem por isso despertam o mesmo sentimento nos brasileiros. Esse acontecimento, muito raro no esporte hoje em dia, dá-se principalmente pelo fato de o camisa 1 do pentacampeonato mundial nunca ter desrespeitado os rivais do Palmeiras. Aliás, quando julga necessário, até os elogia. Em relação à torcida palmeirense, o goleiro é, indiscutivelmente, unanimidade, e duas questões essenciais explicam tal idolatria. Primeiro porque o destaque da Libertadores de 1999, ao contrário da maioria dos jogadores, optou por não deixar o clube rumo à Europa, inclusive em 2003, ano em que o Palmeiras disputou a 2ª divisão. Além disso, Marcos é, acima de tudo, um palmeirense.

Atualmente, parece ser lei entre os atletas brasileiros sair para o Velho Continente o mais cedo possível e começar a faturar em euros ainda na adolescência, em vários casos ganhando salários desproporcionais ao futebol de fato apresentado. Muitos sequer se profissionalizam em algum clube nacional. Marcos, porém, nadou contra a maré e fugiu à regra. O goleiro decidiu permanecer no Brasil, construir sua história no Palmeiras e criar uma identidade palmeirense em um período no qual, claramente, os europeus pagavam melhor. E o principal benefício dessa decisão de ficar por aqui ao longo de toda a carreira é o carinho e a gratidão que, sem dúvida, a torcida alviverde lhe dispensará eternamente. O futebol brasileiro perde um grande goleiro e, ao mesmo tempo, um cidadão incomparável. Afinal, Marcos é exceção. Marcos é único. É "São Marcos".

No primeiro vídeo, confira como foi a partida entre Palmeiras e Sport, uma das tantas em que Marcos fez os palmeirenses sorrirem. Já o segundo contém os melhores momentos da decisão da Copa do Mundo de 2002, quando Marcos fechou o gol da seleção brasileira pentacampeã mundial.




3 comentários:

  1. É meio "cafona" o que vou escrever, mas não tem como ler o que você escreveu e não dizer:
    Lindo!
    Cairo, você escreve sobre futebol com paixão, e isso independe do time, jogador ou torneio. Mas esse sobre o Marcos, esta simplesmente emocionante, muito lindo mesmo.
    Você me orgulha, pela pessoa que é, "dentro e fora de campo" (risos)...
    Já disse isso outras vezes, porém uma a mais não irá fazer mal - Parabéns!

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  2. Cont...
    Só para terminar;
    Parabéns para você e para o Marcos!
    É claro...

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