quinta-feira, 7 de junho de 2012

Euro: uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina?


O mundo do futebol é repleto de pessoas apegadas a clichês e ideias prontas, que normalmente não acompanham o dinamismo do esporte. E há vários exemplos que comprovam essa tese, dentro ou fora de campo. Para muitos, o primeiro volante - homem que joga à frente da linha de defensores - precisa ser apenas um "cão-de-guarda", ou seja, aquele jogador que tem grande poder de marcação. Se foge à regra e apresenta um bom passe, é prontamente adiantado para o setor de criação. Inúmeros especialistas acreditam que um time não sobrevive sem um centroavante "trombador" e que jogue sempre de costas para o gol adversário. Fora das quatro linhas, um pensamento que parece ser comum a muitos torcedores e jornalistas é o de que a Euro, torneio de seleções do Velho Continente, é uma espécie de "Copa do Mundo sem Brasil e Argentina". Será que essa opinião corresponde à realidade e é justa com outros times?

Questionar a qualidade da Eurocopa é no mínimo incoerente. A primeira rodada dessa edição do torneio, por exemplo, colocará frente-a-frente Itália e Espanha, os últimos campeões mundiais, além de Alemanha e Portugal, protagonistas de um duelo entre uma geração jovem de muito valor e Cristiano Ronaldo, o segundo melhor jogador do planeta. Essa partida, aliás, certamente fará alguns argentinos e brasileiros deixarem de lado o clássico Brasil x Argentina, que acontece no mesmo horário. E existem outros argumentos que atestam a importância da Eurocopa. Para se ter uma ideia, em 2011, a FIFA elegeu a seguinte seleção mundial: Casillas, Daniel Alves, Piqué, Vidic, Sérgio Ramos, Xabi Alonso, Xavi, Iniesta, Cristiano Ronaldo, Messi e Rooney. Oito deles estarão em gramados ucranianos e poloneses. As exceções ficam por conta do sérvio Vidic, cuja seleção não se classificou, e dos "não-europeus" Daniel Alves e Messi.

Porém, afirmar que a Euro é uma "Copa do Mundo sem Brasil e Argentina" hoje em dia significa colocar essas duas seleções em um patamar que não ocupam há um bom tempo. E os resultados não me deixam mentir. A última vez em que pelo menos um desses times chegou à semifinal de uma Copa do Mundo foi na edição de 2002, vencida pelo Brasil. Já os argentinos não alcançam essa fase desde 1990, ou seja, há mais de 20 anos. Recentemente, no Mundial de 2010, o Uruguai desbancou a Argentina de Messi e o Brasil de Kaká, ficou com a quarta colocação e foi a seleção sul-americana melhor classificada. Outra equipe "esquecida" pelos fiéis ao clichê citado acima, o Paraguai só abandonou a Copa depois de ter vendido caro a classificação para a futura campeã Espanha. Detalhe: Uruguai e Paraguai fizeram a final da Copa América do ano passado depois de eliminarem Argentina e Brasil, respectivamente.

Essa injustiça não se limita à América do Sul. Outra seleção que, a meu ver, fez papel mais bonito que Argentina e Brasil e com menos recursos foi a de Gana. Com um espírito de valentia, aliado à motivação de jogarem em casa, os ganeses chegaram às quartas-de-final e por pouco não foram além. De alguma maneira, essas equipes de menor tradição ajudam a construir a história das Copas com episódios marcantes, assim como aquelas que um dia já levantaram o troféu máximo do futebol. Um bom exemplo é o primeiro jogo do Mundial de 2002. Senegal enfrentou a então atual campeã França e derrotou por 1 a 0 Zidane e companhia, que dariam adeus ao sonho do bi já na fase de grupos, enquanto os senegaleses alcançariam as quartas. Os franceses voltaram a sofrer nas mãos dos africanos oito anos depois, em 2010, quando a anfitriã África do Sul superou os Bleus por 2 a 1. Capítulos que, sem dúvida, estão na história das Copas.

Como se pode perceber, o que questiono aqui não é a qualidade técnica e a importância da Eurocopa como torneio. A exemplo da Copa do Mundo, a Euro tem um enorme valor para aqueles que a disputam e, principalmente, para quem a conquista. Da mesma forma que o Mundial, quase todo o planeta assiste com muita atenção às partidas entre os europeus. Entretanto, chamar a Euro de "Copa do Mundo sem Brasil e Argentina" é colocar essas seleções em uma condição à qual não fazem jus há muitos anos. É também esquecer momentaneamente equipes que merecem bem mais respeito, como o Uruguai, campeão da primeira edição da Copa e o segundo time a alcançar o bicampeonato mundial. Além de ser uma injustiça com equipes como Senegal, que apesar da pequena tradição, contribuem com pelo menos algumas peças neste gigante, incomparável e democrático quebra-cabeça chamado futebol.

Abaixo, um vídeo para relembrarmos o histórico duelo entre Uruguai e Gana na Copa do Mundo de 2010. Ao contrário do que muitos pensam, o Mundial de futebol não se limita a Brasil, Argentina, Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Espanha, etc.

3 comentários:

  1. Vi um comentário parecido sobre esse "copa do mundo sem Brasil e Argentina". Mas no caso o cara falou que faltava o Uruguai e fez questão questão de dizer que a África estava longe ainda.

    Acho que concordo mais com a sua opinião. Podemos lembrar também da Coreia do Sul, na copa de 2002, por exemplo.

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  2. A Argentina eu não sei, mas a seleção brasileira virou bagunça. Muito dinheiro e muita malandragem trocaram o orgulho de jogar com a amarelinha pela fama de aparecer mais valorizado no mercado do futebol.

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  3. Parabéns meu irmão por esse trabalho primoroso, de qualidade que é seu blog! Estou muito orgulhoso de vc! O papai tinha me falado do seu trabalho, mas confesso que me surpreendi muito com a riqueza esportiva do seu web site! Parabéns e abraços! Seu irmão Léo.

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