sábado, 20 de outubro de 2012

Quando a pequena ou nenhuma influência da arbitragem em um jogo de futebol pode ser prejudicial ao espetáculo

Chris Kirkland, alvo de agressão de torcedor do Leeds
Já virou rotina: ao término de cada rodada de campeonatos de futebol ao redor do mundo, pelo menos em uma partida a atuação da arbitragem gera polêmica. E é inegável que, hoje em dia, os mediadores do jogo ocupam um espaço que não deveriam nos debates esportivos. Em duelos que poderiam causar discussões saudáveis do nível de "qual gol foi o mais bonito?", quem rouba a cena são os homens do apito.

Os motivos de tais discórdias são variados, mas normalmente estão relacionados à quantidade de faltas anotadas ao longo dos 90 minutos. Os árbitros brasileiros, em sua maioria, optam por parar mais o embate, às vezes até exagerando no número de infrações. Em alguns campeonatos europeus ocorre o contrário. Claro que o ótimo estado de conservação dos gramados contribui para o bom andamento da partida, mas em certos países do Velho Continente há uma clara tendência de deixar o jogo correr. O ex-árbitro e agora comentarista Leonardo Gaciba fez um levantamento no início deste mês que mostra que os jogos do Campeonato Inglês têm em média 16 faltas a menos que as partidas do Brasileirão.

O problema é que, em algumas ocasiões, esse estilo de arbitragem se confunde com omissão, o que pode gerar consequências graves mais tarde. E aconteceu justamente isso na partida entre Sheffield Wednesday e Leeds United, nesta sexta-feira, pela segunda divisão inglesa. O primeiro tempo do duelo foi marcado por alguns lances mais ríspidos, dentre eles uma troca de agressões entre o zagueiro Miguel Llera, do Sheffield, e o meia Michael Brown, do Leeds, aos 38 minutos. O árbitro Eddie Ilderton ignorou e, incrivelmente, não aplicou nenhum cartão amarelo na primeira metade do jogo. No vídeo que se encontra abaixo do texto, é possível perceber que não há santo na história e que um tenta atingir o outro. Portanto, ambos mereciam uma punição severa.

O "Dérbi de Yorkshire" prosseguiu com algumas discussões entre os atletas. Aos 43 minutos, Jay Bothroyd abriu o placar para o Sheffield. Aos 30 do segundo tempo, Michael Tonge marcou um lindo gol e empatou a partida em 1 a 1. A beleza do tento anotado por Tonge, no entanto, foi ofuscada segundos depois, quando um torcedor do Leeds que se encontrava atrás do gol do Sheffield invadiu o gramado e agrediu no rosto o goleiro Chris Kirkland. Além dele, outros indivíduos também adentraram o campo com os nervos à flor da pele, assim como Llera e Brown no primeiro tempo. Após alguns minutos, os torcedores voltaram aos seus lugares, o goleiro foi atendido e o jogo continuou. E o duelo infelizmente ficou marcado por essas cenas de agressão.

É óbvio que a maneira como o árbitro e seus assistentes conduziram a partida não justifica a inaceitável barbárie cometida pelo torcedor do Leeds, que certamente será punido de maneira exemplar e nunca mais entrará em um estádio inglês. Tendo em vista o histórico violento de algumas torcidas na Inglaterra, acredito até que o ato poderia ter ocorrido independentemente do clima do jogo em campo. Contribuíram também provocações por parte da torcida da casa, que fez referência a dois apoiadores do Leeds mortos em 2000. Ao mesmo tempo, é difícil dizer com convicção que a falta de punição aos atletas dentro das quatro linhas não tenha acirrado ainda mais os ânimos dos "invasores". Nesse caso, a pequena influência de Eddie Ilderton foi um erro.

Curiosamente, essa partida ocorreu no Estádio de Hillsborough, cenário de uma das maiores tragédias da história do futebol. Em 15 de abril de 1989, Liverpool e Nottingham Forest se enfrentavam pelas semifinais da Copa da Inglaterra quando, por conta da superlotação nas arquibancadas, centenas de torcedores do Liverpool foram empurrados contra o alambrado. 96 deles não resistiram e morreram esmagados. Esse episódio motivou a publicação do Relatório Taylor, em 1990, que instituiu diversas medidas visando à modernização do futebol inglês, dentre elas o fim das grades que separam a torcida do campo. Lamentável que, mais de duas décadas depois, um cidadão se aproveite dessa importante transformação para protagonizar cenas de selvageria.

No primeiro vídeo, confira o momento em que o zagueiro Miguel Llera, do Sheffield, e o meia Michael Brown, do Leeds, trocam tapas. Logo abaixo, veja a agressão do torcedor do Leeds contra o goleiro Chris Kirkland. Clima hostil entre torcedores e jogadores infelizmente ofuscou os dois gols da partida.



Nenhum comentário:

Postar um comentário