quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Vítima da política da CBF, Mano Menezes também foi perseguido por incoerência e imediatismo dos brasileiros

Mano Menezes deu lugar a Felipão na seleção brasileira
A CBF anunciou há uma semana a demissão de Mano Menezes e na manhã desta quinta-feira o retorno de Luiz Felipe Scolari ao comando da seleção brasileira. A opção pela troca de treinador pegou muitos de surpresa. Não porque o trabalho de Mano à frente da equipe nacional tenha sido incontestável, mas pelo fato de ter acontecido justamente no momento em que o técnico parecia encontrar um esquema de jogo no mínimo ousado e interessante, com dois volantes - Paulinho e Ramires - de maior saída de bola e um ataque de bastante movimentação.

Neste texto, não pretendo abordar os motivos que levaram a Confederação a tomar essa decisão, até porque eles têm um claro viés político - não à toa Andrés Sánchez abandonaria o cargo de diretor de seleções, que da noite para o dia deixou de existir. Quero questionar as razões que fariam a maioria dos brasileiros também seguir por esse mesmo caminho de trocar o comando técnico a pouco mais de um ano e meio da Copa do Mundo de 2014. Afinal, não dá para negar que, se o poder estivesse nas mãos do povo, o destino de Mano seria exatamente igual. Esse cenário, que já se tornou constante entre os clubes nacionais, só evidencia o imediatismo e a incapacidade de se analisar o contexto atual do nosso futebol por parte de alguns dirigentes e torcedores.

Como eu já disse, era possível contestar algumas escolhas de Mano Menezes. Difícil entender como Ronaldinho foi convocado para amistosos no final de 2010, quando não vivia uma fase extraordinária no Milan, e não figurou nas listas mais recentes, já que vem fazendo uma temporada bem melhor pelo Atlético Mineiro. Também não acho que o futebol brasileiro vive uma "entressafra", ideia defendida por Ronaldo. Mano tinha, sim, um bom material humano em mãos. Thiago Silva, Daniel Alves e Marcelo são três dos melhores defensores atualmente, Ramires foi fundamental no título europeu do Chelsea, Oscar se adaptou como poucos ao clube inglês, e Neymar esteve pelo segundo ano consecutivo entre os 23 indicados à Bola de Ouro.

Transformar essas peças em um conjunto de engrenagens que funcione perfeitamente, no entanto, não é um processo fácil. Por conta disso, me impressiona o imediatismo que tomou conta dos brasileiros e do próprio Felipão, que na sua apresentação disse que essa seleção tem a obrigação de ser campeã jogando em casa. Por quê? É importante lembrar que o elenco nacional passou por uma reformulação grande após a eliminação de 2010 e que tem protagonistas muito jovens. E essas mudanças não eram uma entre tantas opções de Mano ao assumir a seleção. Naquela época ele foi obrigado a dar chance aos mais novos e a deixar alguns medalhões de lado. Ou alguém acha que Juan, Gilberto, Josué, Júlio Baptista, Kléberson e Grafite ainda tinham espaço?

Muitos vão dizer que uma seleção como a brasileira não pode desperdiçar mais uma oportunidade de conquistar a Copa do Mundo como anfitriã - visto que, em 1950, foi vice-campeã. Porém, uma derrota que aconteceu há mais de 60 anos não pode gerar tanta responsabilidade em jogadores que começam a despontar agora. Sem falar que perder a Copa em seu próprio país não é uma questão de vida ou morte. Em 1990, a Itália ficou com a terceira colocação em casa e quase conquistou o título quatro anos depois. Em 2006, a Alemanha também parou nas semifinais diante de sua torcida, mas na África do Sul, com ótimas atuações dos jovens Özil e Müller, fez uma grande competição. Agora, os alemães chegam ao Brasil com boas chances de conquistar o tetra.

A incoerência dos brasileiros também fez parte desse período de Mano na seleção. Quando a forte Holanda derrotou o Brasil de Dunga em 2010, os títulos da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2009 foram praticamente "invalidados" pelos torcedores, para os quais essas taças não tinham importância se o principal objetivo, no caso a Copa do Mundo, não havia sido atingido. O mesmo aconteceu com Carlos Alberto Parreira, campeão dos dois torneios anteriores ao Mundial, mas eliminado pela França em 2006. Com Mano, o desempenho na competição continental formou a opinião de várias pessoas. Como esses troféus têm importância secundária após uma eliminação no Mundial e primária para decidir se o técnico deve ou não permanecer?

Rever alguns conceitos é fundamental. Diretores e brasileiros em geral muitas vezes aparecem defendendo o trabalho a longo prazo, mas na primeira oportunidade pedem a cabeça do treinador. Empolgaram-se durante quatro anos com a equipe para lá de vencedora que Pep Guardiola formou enquanto dirigiu o Barcelona e com os métodos de treino do catalão, mas logo discordaram da ideia de um estrangeiro como técnico do Brasil, como fez o presidente da CBF, José Maria Marín. Aliás, esse é outro ponto relevante: admitir que países como Espanha e Alemanha têm talentos tão bons ou até melhores que os nossos, dentro de campo ou no banco de reservas. Pois reconhecer o talento adversário pode ser essencial para que a seleção brasileira volte a reinar no futuro.

No vídeo abaixo, confira os lances de Brasil 4 x 0 Japão, no dia 16 de outubro de 2012. A atuação foi uma das melhores (se não a melhor) da "Era Mano". A seleção brasileira foi a campo com a seguinte escalação: Diego Alves; Adriano, Thiago Silva, David Luiz e Leandro Castán; Paulinho, Ramires, Oscar, Kaká, Hulk e Neymar.

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