sábado, 26 de janeiro de 2013

Campeonatos estaduais ainda são prejudiciais a muitas equipes. Atlético-PR optou por caminho mais inteligente

Atlético-PR, de Ricardo Drubscky, "driblou" o estadual
Começaram no último final de semana alguns dos principais campeonatos estaduais do Brasil. Eles serão disputados até o dia 19 de maio, isto é, ocuparão longos quatro meses do calendário do futebol nacional. Diante desse cenário, naturalmente voltam à tona aqueles questionamentos antigos e ignorados pela maioria dos dirigentes brasileiros: o que essas competições acrescentam? Não é hora de promover mudanças? A meu ver, é inegável que a duração desses torneios está longe de ser equivalente à sua importância nos dias de hoje, especialmente para os clubes que já têm muitos deles em seus currículos.

Do ponto de vista técnico, vencer um estadual nem é uma missão tão árdua para os times grandes, que evidentemente estão vários degraus acima dos demais adversários. Porém, para conquistar o título, é preciso enfrentar uma quantidade de partidas desproporcional à relevância desses campeonatos. No Paraná, são necessários 24 jogos para levantar a taça. Nos estaduais de Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo, é possível um time alcançar a marca das 23 pelejas na caminhada até o caneco. Bahia, Goiás e Santa Catarina não ficam muito atrás: equipes desses estados podem entrar em campo até 22 vezes. No Rio de Janeiro, o máximo é 21. Quem se destaca positivamente nesse quesito é Minas Gerais, onde o campeão faz somente 15 partidas.

A principal consequência desses números é a sobrecarga provocada nas equipes. O São Paulo, que em 2013 disputará Campeonato Paulista, Brasileirão, Sul-Americana, Recopa, Copa Suruga, Libertadores e, se for campeão, o Mundial de Clubes, pode fazer 90 partidas oficiais neste ano, algo em torno de um compromisso a cada quatro dias. E o grande problema é que não há tempo de se preparar adequadamente para "maratonas" como essa: somente 38 dias separaram o último jogo de 2012, a final da Sul-Americana com o Tigre, do duelo com o Mirassol, pela estreia no Paulistão. A título de comparação, o intervalo entre as temporadas 2011/2012 e 2012/2013 na Inglaterra foi de 91 dias. Os dados acima foram levantados pelo blog do jornalista Mauro Cezar Pereira.

Na maioria dos estaduais, uma mudança de formato é suficiente para aliviar essa situação. No Paulistão,  somente após as exageradas 19 rodadas da primeira fase é que são definidos os oito classificados. Por que não alterar essa forma de disputa? Não defendo a diminuição da quantidade de clubes de menor expressão, até porque acho legal ver o interior se mobilizando para receber os grandes. Portanto, eu recorreria à formação de quatro grupos com cinco times (entre eles um clube grande), que se enfrentariam em turno e returno em oito rodadas. Depois disso, os dois melhores da chave avançariam ao mata-mata. Seria viável até fazer as quartas e as semifinais em ida e volta, o que hoje não acontece. Nesse formato, os finalistas teriam 15, e não 23 jogos até a decisão.

Reduzir o número de partidas de uma competição, no entanto, envolve uma série de fatores, e um deles diz respeito às transmissões de televisão. Hoje em dia, para terem o direito de exibir os jogos, emissoras pagam uma fortuna aos grandes clubes, que já se veem reféns desse dinheiro e, assim, não podem ir de encontro aos interesses da TV. Para exemplificar essa "dependência", tomo como referência o Corinthians, agremiação mais rica do Brasil atualmente. Um relatório referente ao balanço de 2011 aponta que as cinco principais fontes de receita - TV, negociação de atletas, patrocínios, departamento social e arrecadação em jogos - renderam aos corintianos R$ 275,8 milhões. Desse valor, nada menos que R$ 112,5 milhões - ou 40,7% - vieram da televisão.

Enquanto isso, treinadores buscam alternativas mais úteis do que os estaduais. O Atlético Paranaense enviou seu time principal para a Espanha, onde participará de um torneio amistoso com outros sete clubes do leste europeu. Assim, além de não precisar interromper sua preparação para disputar o campeonato estadual - quem defenderá o rubro-negro no início é a equipe sub-23 -, o Atlético promoverá a sua marca em território internacional. Esse é, aliás, outro ponto importante. Os clubes brasileiros deixam de fazer excursões à Europa por conta dos compromissos por aqui, vários deles desnecessários. Se nada mudar, ou perderão os estaduais, que verão cada vez mais times reservas em campo, ou as equipes, se não perceberem que podem inovar como o Furacão.

Cada vez mais fracos e desinteressantes, os campeonatos estaduais de todo o Brasil oferecem pouquíssimos atrativos para quem os acompanha. Em São Paulo, um deles é Neymar, que protagonizou lances sensacionais na vitória do Santos por 3 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto.

Um comentário:

  1. Os estaduais sempre são considerados como segunda opção pelos times grandes. Com alguns jogos da Libertadores e da Copa do Brasil acontecendo ao mesmo tempo, é lógico e perfeitamente justificável a prioridade, não só por questões econômicas, mas também pelo grau de dificuldade.

    O estadual seria uma boa opção para valorizar os times do interior e estimular a rivalidade entre eles.

    Mas a participação ou não de times grandes nos estaduais é mais complicada do que parece, nele temos clássicos, que querendo ou não atrai as torcidas ao estádios, e a velha desculpa do "ganhei um titulo", que depois de conquistado e motivo de orgulho!

    Muito legal, você ter falado sobre isso, é mesmo um assunto a se pensar. O texto está muito bem escrito, explicado e com argumentos.

    Mais uma vez... PARABÊNS!

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