
A atual edição do Campeonato Brasileiro é, sem dúvida, uma das mais imprevisíveis desde 1971, ano em que o torneio nacional passou a ser chamado pelo nome que carrega até os dias de hoje. Ao mesmo tempo, porém, não se pode negar que a vitória de virada do Corinthians por 2 a 1 sobre o Atlético Mineiro, em um Pacaembu com quase 40 mil pessoas, deixou a equipe alvinegra ainda mais próxima do pentacampeonato da competição. Afinal, após o histórico placar deste domingo, os corintianos mantiveram os 2 pontos de vantagem sobre o Vasco da Gama, o que lhes dá o direito de até empatar um dos dois jogos que ainda têm a disputar, contra Figueirense e Palmeiras. Caso isso aconteça, o Corinthians chegará a 71 pontos, número que o Vasco também pode alcançar. Contudo, no quesito "vitórias", primeiro critério de desempate, os cariocas ficariam atrás.
O que mais chama a atenção na ótima campanha corintiana, no entanto, é a maneira como a equipe chegou à condição favorável que ocupa hoje, com a vaga na próxima Libertadores já garantida e com o título, que não vem desde 2005, cada vez mais perto. O primeiro e mais importante fator é a manutenção de Tite no comando do elenco após a trágica eliminação para o Tolima, ainda na fase preliminar da principal competição continental e maior sonho de consumo dos alvinegros. Conforme um texto que escrevi em julho, época do início arrasador do Corinthians no campeonato, seria muito mais cômodo à diretoria demitir o treinador e, automaticamente, isentar-se da maior parcela de culpa. Porém, parte dos dirigentes corintianos nadou contra a maré do futebol brasileiro e confiou no técnico, conhecedor do grupo de jogadores à sua disposição.
E os frutos da permanência de Tite começaram a ser colhidos aos poucos, ainda que, durante esses meses, o "casamento" entre o treinador e o clube tenha sofrido alguns tremores, como no episódio do afastamento de Chicão, capitão e ídolo da torcida. Apesar disso, nesse capítulo, Tite mostrou ter pulso firme para tomar decisões em momentos cruciais. Soma-se a esse acontecimento algumas alterações felizes promovidas pelo comandante na reta decisiva do torneio. Na partida contra o Ceará, pela 35ª rodada da competição, o treinador sacou Danilo para a entrada de Ramírez, que anotou o gol da fundamental vitória por 1 a 0. No embate com o Atlético Mineiro, colocou Adriano no lugar de Willian - o que irritou muitos corintianos - e manteve Liédson e Emerson. O primeiro fez o gol de empate, e o segundo passou para o Imperador virar o placar.
É importante destacar, também, a visível entrega de todos os atletas, e a principal prova dessa dedicação é a presença de Liedson em campo. Quando foi contratado, no final de janeiro, o atacante, até então no Sporting, de Portugal, vinha de uma temporada europeia, que começa em julho e se arrasta até maio ou junho do ano seguinte. Portanto, as últimas férias de Liedson haviam ocorrido no meio de 2010, e o camisa 9 teria mais quase um ano pela frente sem descanso. Agora, o luso-brasileiro, apesar de uma inevitável fase sem marcar gols, volta a ser decisivo com o uniforme que já havia vestido em 2003. Além disso, Adriano, mesmo ciente de que, tecnicamente, está bastante acima da média brasileira, reconheceu a má condição física e aceitou normalmente o banco de reservas, do qual saiu hoje e marcou o gol da importante virada corintiana.
Tite, inteligentemente, pede cautela aos jogadores e aos torcedores. "Nós temos os pés no chão. Ninguém conquistou nada. Tenho experiência suficiente para não cantar glória antes da hora. Já perdi Brasileiro a três minutos do fim, com minha mulher sentada na arquibancada para comemorar e meus colegas pensando na taça". Essa foi a declaração do treinador em referência à perda da taça para o São Paulo quando jogava no Guarani, em 1986. O Corinthians ainda tem dois duros confrontos pela frente, a começar pelo Figueirense, que continua vivo na briga por vaga na Libertadores. Depois tem o clássico com o Palmeiras, que chegará à última rodada sem nenhuma pressão e tentará amenizar a péssima temporada que fez tirando o título nacional do rival. A missão de Tite é, 25 anos depois, não deixar a taça escapar de suas mãos novamente.
No vídeo abaixo, filmado das arquibancadas do Pacaembu, confira o decisivo gol de Adriano, que saiu do banco de reservas e decretou a histórica virada corintiana sobre o Atlético Mineiro.
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