sexta-feira, 24 de maio de 2013

Na véspera de decisão alemã na Champions League, atacante Cacau fala sobre força e organização da Bundesliga

Dortmund ou Bayern: um deles será o novo campeão europeu
Neste sábado, as atenções do mundo da bola estarão totalmente voltadas para Londres. Borussia Dortmund e Bayern de Munique decidirão no histórico Estádio de Wembley o título da Liga dos Campeões 2012/2013. Vários fatores dão a esse jogo um sabor muito especial. Um deles é a maneira como os finalistas passaram pelos gigantes Real Madrid e Barcelona nas semifinais. É inegável que o fato de terem vencido os espanhóis de forma tão incontestável e evitado pelo segundo ano consecutivo o esperado confronto entre catalães e merengues engrandece ainda mais o feito de aurinegros e bávaros.

Mas o principal motivo de tamanha expectativa para a partida é, sem dúvida, o encontro entre dois times de um mesmo país em plena decisão, algo que não acontece com tanta frequência. Desde que a Champions passou a admitir mais de uma equipe de cada nação, na temporada 1997/1998 - vale lembrar que, antes disso, apenas os campeões nacionais tinham vaga na competição -, essa "final caseira" aconteceu somente em três ocasiões. Em 2000, o Real Madrid levou a melhor em cima do Valencia e conquistou seu oitavo título europeu. Três anos depois, em 2003, o Milan superou a rival Juventus e ficou com a taça. Na edição de 2008 foi a vez de o Manchester United vencer o Chelsea e faturar a "orelhuda", como é conhecido o troféu do torneio.

O duelo entre Bayern e Dortmund, porém, não será apenas mais um número para essa estatística. A decisão de sábado vai muito além disso e representa a força de um futebol que hoje já é referência de organização para o mundo todo, inclusive para o Brasil. Para falar sobre isso, fiz uma entrevista com o atacante Cacau, do Stuttgart, que talvez seja um dos jogadores brasileiros que melhor entendam do assunto. Cacau nasceu em Santo André e deu os seus primeiros passos como jogador em Mogi das Cruzes, mas construiu praticamente toda a carreira na Alemanha, onde está desde 1999. Por conta dessa relação com o futebol de lá, naturalizou-se alemão e chegou a defender a seleção do país na Copa do Mundo de 2010, na qual marcou um gol.

Cacau comemora gol contra a Austrália no Mundial da África do Sul
O poder da Bundeliga tem ligação direta com a maneira como os dirigentes lidam com as finanças. Passado um período negro, quando alguns clubes - inclusive o Borussia Dortmund - beiraram a falência, hoje o futebol alemão vive um ótimo momento econômico. Na temporada 2011/2012, o certame nacional movimentou 2,08 bilhões de euros, o que corresponde a um aumento de 7,2% em relação à temporada anterior. "A Bundesliga é uma liga muito sólida financeiramente. Os clubes trabalham com consciência, tentando não gastar mais do que recebem", analisou Cacau. E o que ele diz tem fundamento. Ainda referente à última temporada, um dado chama a atenção: 14 dos 18 clubes da primeira divisão tiveram um balanço positivo, ou seja, mais faturaram do que gastaram.

Se dentro de campo as coisas correm bem, nas arquibancadas as torcidas também fazem a sua parte. O Campeonato Alemão é, com folga, a liga de melhor média de público do mundo. De acordo com estudo da Pluri Consultoria, a temporada 2011/2012 da Bundesliga teve média de aproximadamente 45 mil torcedores nos estádios. A título de comparação, a média do Brasileirão de 2012 foi de 12.983, marca que até a segunda divisão da Alemanha consegue superar: 17.212. E os números de alguns clubes alemães chegam a impressionar, como é o caso do Borussia Dortmund, equipe com a maior média de público do planeta. Na última temporada, os aurinegros tiveram média de 80.552, sendo que a capacidade do Signal Iduna Park é de 80.720 lugares.

Torcida do Dortmund praticamente não deixa lugares vagos em jogos do time
Das nove equipes que completam a lista das 10 com as melhores médias, quatro são alemãs, incluindo o Stuttgart de Cacau, que é o oitavo. Um ponto que explica em parte esse "fenômeno" é o fato de os clubes da Bundesliga optarem por ingressos a baixo custo. A arrecadação com a renda acaba sendo menor do que poderia, mas é compensada com o que os torcedores consomem dentro do estádio durante a partida com alimentação e produtos oficiais do time. O atacante ainda acrescenta alguns fatores. "Os novos estádios (construídos para a Copa do Mundo de 2006, realizada na Alemanha), a segurança e a atratividade são questões que colaboram para isso. Muitas famílias vão aos jogos com seus filhos, e isso se deve a toda a infraestrutura oferecida".

E aqui é importante ressaltar que, apesar de toda essa comodidade que têm nos estádios, os torcedores alemães não deixam de cumprir a sua principal função, que é a de empurrar o time durante os 90 minutos, ou seja, ser definitivamente "um jogador a mais". Confira como é a atmosfera em um jogo do Stuttgart:



E essa força do futebol alemão tem reflexos na seleção nacional. A Alemanha parece cada vez mais próxima de dar um fim ao jejum de 24 sem ganhar a Copa do Mundo, competição da qual é tricampeã. No Mundial de 2010, com um elenco formado totalmente por jogadores da Bundesliga, o Nationalelf apresentou, a meu ver, o melhor futebol do torneio. Os alemães aplicaram goleadas históricas, como 4 a 1 em cima da Inglaterra e 4 a 0 na Argentina de Messi, mas parou nas semifinais, quando perdeu por 1 a 0 para a Espanha. Cacau, que sonha em jogar a Copa em seu país de origem, vê a seleção com condições de ir além em 2014. "A Alemanha está bem focada nesta Copa. Creio que vai chegar bem preparada ao Brasil e com chances reais de conquista".

Mesmo já vivendo uma situação tão boa, a tendência é que as coisas melhorem ainda mais na Bundesliga. E um indicativo dessa evolução é a chegada do técnico multicampeão Pep Guardiola ao Bayern, o que o atacante do Stuttgart enxerga com bons olhos. "Com certeza sua presença irá aumentar credibilidade e a visibilidade da liga. Com isso, acredito também que grandes jogadores serão atraídos pelo futebol alemão". Certo é que esses craques já têm vários motivos para adicionarem a liga alemã aos seus currículos, e a tão aguardada decisão de sábado só os reforça. Para essa final, aliás, Cacau já tem o seu palpite. "As duas equipes fizeram um excelente trabalho nos últimos anos e agora colhem os frutos. Mas penso que o Bayern tem mais chances de título".

Um comentário:

  1. Estêvão Franco Ferreira24 de maio de 2013 às 11:22

    Parabéns, ótima análise, Cairo! O único contra é o palpite do Cacau, pois vai dar Borussia!

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